6 |Valor|Sexta-feira,21deagostode
T
udo aconteceu muito rápido.
Em seis meses,oSars-Cov-2 in-
fectoumaisde 18 milhõesde
pessoase provocoua mortede
cercade 700 mil, segundodadosda Or-
ganizaçãoMundialdaSaúde(OMS)dis-
poníveisatéoiníciodeagosto.
No fim de 2019,quando surgiramas pri-
meirasinformaçõesde que um novocoro-
navírusestava se espalhandorapidamente
e matandomoradores em Wuhan, na Chi-
na, a comunidadecientíficainternacional
não se alarmoude imediato.
Havia experiências anteriores,comoa
Sars (2003)e a Mers(2012),tambémcausa-
das por coronavírus,que não se dissemina-
ram pelo mundo.Até então, portanto,não
haviamotivoparagrandespreocupações.
Como novovírus,sabemos,foi muitodi-
ferente. A pandemia de covid-19 já é a
maiorcrisesanitáriadomundodosúltimos
cemanos.Onovocoronavírusescalouopla-
neta,causandotristezaedor amilharesde
pessoasque perderamseusfamiliaresou
amigosparaadoença.
Comomédico infectologista,acompa-
nheios primeiroscasosde HIV no Brasil,
tendopublicado—em coautoriacomo
meugrupo—otrabalhosobrea primeira
SAÚDE
Seis mesesapósa chegadadonovocoronavírusaopaís,em 25
defevereiro, a vida nãovoltouaonormal,nemvoltarátãocedo.
Quempuder, deveficaremcasa.Por DavidUip,para o Valor
A dor e o
infecção autóctone ocorridano país, no Es-
tadode São Paulo. Daí em diante—no
princípio não havia tratamento eficaz—
passeia lidarquaseque diariamente com
mortesde meuspacientespor aids.
Porisso possotestemunhar:cadamorte
dói, ecom apandemia de maisde 2,7 mi-
lhõesde infecçõespelo novocoronavíruse
um saldode 95 mil mortos,ocupando
umatriste segundaposição no ranking
mundial da doença, atrás apenas dos
EstadosUnidos.
O primeiro caso de covid-19no país foi
confirmado na cidadede São Paulo em 25
de fevereiro, de pacienteque havia viajado
paraa Itáliae, ao retornar, sentiu-semal e
procurou atendimento no HospitalIsraeli-
ta AlbertEinstein.A partir daí, ovírus se
alastrourapidamente pela capitalpaulista
eregiãometropolitana. InvadiuoutrosEs-
tadose colapsou o sistema de saúdede vá-
rios municípios.
Desdeo surgimentoda primeirainfec-
ção,São Paulo se mobilizou.De imediato
foi criado um Centrode Contingência,for-
madopor 18 especialistasem saúde,entre
médicos,virologistas,cientistas,epidemio-
logistas e professores universitários,da ca-
pitaledo interior,com amissãode acom-
panharoavançoda transmissãoesubsi-
diar as ações e medidasdo Governodo Es-
tadoparaoenfrentamentoda epidemia.
As decisõesseriam,portanto,pautadas pe-
la ciênciae pela medicina.
As primeirasmedidasrestritivasna capi-
tal e regiãometropolitanaforamanuncia-
das logo em 13 de março, antesmesmoda
confirmação do primeiro óbitopor co-
vid-19,com arecomendaçãode fechamen-
to de cinemase teatros, se estendendo, dias
depois,para bibliotecasemuseus,celebra-
çõesreligiosas,parqueseescolas.Na se-
quênciaveio o fechamentodeacademiase
shoppings,visandoevitaraglomerações.
Mas,diantedo avançoda doença,os
membrosdo Centrode Contingênciarapi-
damentedeliberarampela adoçãode uma
rigorosaquarentena,segundoa qualso-
menteos serviços essenciaiscomosuper-
mercados,farmáciasepadarias poderiam
funcionar.Tenhoaconvicçãode que acon-
dutaadotadafoi amais adequada,tendo
contribuídoparapouparmilharesdevidas.
O modelode quarentenalinearprevale-
ceu por maisde dois meses,até 31 de maio.
Apesarde o índicede isolamentosocial
consideradoideal —de 70% —não ter sido
atingido,ofatoéque, em média,22 mi-