A Bola - 20200823

(PepeLegal) #1

06 A BOLA


Domingo
23 de agosto de 2020
LIGA DOS CAMPEÕES jFINAL

Futebol internacional


Final da Liga dos campeões PSG-Bayern, hoje, 20 horas


É nos erros dos poderosos alemães


que mora a esperança parisiense


Os pontos fortes e fracos de duas super-equipas


dEstádio da Luz recebe uma final que promete muito


C

HEGOU o dia! É o grande
objetivo dos gigantes con-
tinentais, como são os dois
finalistas, que há muito do-
minam os respetivos cam-
peonatos: sete consecutivos para o
Bayern e os mesmos sete mas em
oito anos para o Paris Saint-Ger-
main. É uma final que promete! Pro-
mete desde logo mentalidade ofen-
siva, velocidade e golos, num
espetáculo que, por isso mesmo,
ainda mais merecia ter público. Os
alemães vão pela sexta orelhuda, en-
quanto os franceses atiram-se como
se não houvesse amanhã à primei-
ra, nove anos depois de começarem
a chegar do Catar os carros-forte a
transbordar de dinheiro. Pela for-
ma como despachou Barcelona (8-
-2) e Lyon (3-0), o Bayern parte com
algum favoritismo, mas dificilmen-
te será um passeio. As poucas debi-
lidades mostradas em Portugal se-
rão, provavelmente, exponenciadas
pela velocidade terminal da frente de
ataque dos parisienses, com Di Ma-
ría, Mbappé e Neymar.


LINHA DEFENSIVA ALTA ALEMÃ
Hansi Flick quer uma linha defen-
siva bem alta para sufocar os adver-
sários, que ficam com muito pouco
espaço para sair a jogar. Se estes ar-
riscam podem perder a bola em zona
proibida e se jogam com mais cau-
tela acabam por tentar o pontapé
longo, e aí os bávaros recuperam a
bola e reiniciam a construção. No
entanto, verificaram-se várias per-
das de bola no meio-campo que ori-
ginaram transições rápidas, explo-
radas por Barcelona e Lyon. Nesse
momento, os centrais Boateng — em
dúvida, depois de ter sido substituí-
do frente ao Lyon; Süle será o subs-
tituto se não recuperar — e Alaba fi-
cam muito expostos, às vezes até
muito distantes entre si, o que pro-
porciona espaço para os rivais. Não
só Di María e Mbappé vão estar aten-
tos, como o esperado posicionamen-
to mais interior de Neymar irá abrir
o flanco esquerdo para os arranques
vertiginosos de Bernat. Apesar de
Alphonso Davies e Boateng serem
especialistas em desarmes de última
instância, Neuer terá de estar mui-
to atento para controlar o latifúndio
abandonado à sua frente.


O BLOCO MÉDIO PARISIENSE
O PSG vai tentar controlar o es-
paço interior, com pressão individual


sobre a bola e as linhas de passe: Di
María, Mbappé e Neymar vão pro-
curar cortar a ligação para os laterais,
e Paredes (ou Verratti) e Herrera im-
pedir que Thiago e Goretzka se vi-
rem para a baliza parisiense. Flick
pode contornar o bloqueio com a
descida de Thiago para o espaço en-
tre os centrais, o que obrigará Müller
a baixar no terreno para ajudar na
saída. A perda da bola nesta zona
pode ser fatal para os alemães, face
à velocidade do trio francês.
Com tanta consistência no jogo
interior do lado de Tuchel, o Bayern
acionará ainda mais Gnabry e Al-
phonso Davies, beneficiando tam-
bém das características de Perisic

para estar mais por dentro e dar tra-
balho aos defesas contrários. Tam-
bém não é certo que o PSG consiga
controlar por completo o jogo inte-
rior alemão, tal a capacidade que
Lewandowski e Müller têm para bai-
xar e encontrar espaço, e o brilhan-
tismo de Thiago em colocar a bola
onde quer.

NEYMAR E KIMMICH...
O ataque posicional do PSG tem
Neymar como ator principal. Num
4x3x3 mais linear, o brasileiro par-
te da esquerda para o meio e é entre
linhas que se torna um caso sério.
Quando isso acontecer irá expor o la-
teral-direito Kimmich, que ainda

Por
LUÍS MATEUS

terá que se preocupar com Bernat
— o que obriga Gnabry a estar mui-
to presente no momento defensivo.
Mas Tuchel pode decidir-se por
um losango e colocar Neymar como
10 nas costas de Mbappé e Di María.
A decisão, que seria sempre uma
surpresa jogo dentro já que os joga-
dores seriam os mesmos, provoca-
ria problemas aos bávaros: seria Thia-
go ou Goretzka, ambos mais talhados
para missões ofensivas, a marcar
Neymar? O técnico alemão pode an-
tecipar a situação, abdicando de Go-
retzka por Pavard, que seria então o
lateral-direito, com Kimmich a en-
trar no duplo-pivot, com a missão de
vigiar o brasileiro. A ligação Paredes-

Curiosidades


históricas


Madrid (16). Os bávaros têm cinco
títulos, numa lista liderada de novo
pelos merengues, com 13, seguidos
pelo Milan, com sete, e Liverpool,
com seis. As últimas seis equipas
estreantes na final da prova
perderam, sendo o Dortmund, em
1997, o último rookie a vencer,
diante da Juventus. O PSG já esteve
em duas finais da Taça dos
Vencedores das Taças, em épocas
sucessivas: em 1995/96 venceu o
Rapid Viena (1-0), mas em 1996/
foi derrotado pelo Barcelona (1-0).

Bayern e PSG defrontaram-se
oito vezes, sempre na fase de
grupos da Champions. Os franceses
venceram cinco e os alemães três. O
último confronto data de 5 de
dezembro de 2017, com os últimos a
triunfarem em Munique por 3-1. É a
primeira final da Liga dos Campeões
para o PSG e a 11.ª para o Bayern, que
neste capítulo só perde para o Real

j


928 milhões de euros é o
valor de mercado do
Bayern, de acordo com o site
especializado transfermarkt. Já
o PSG está avaliado em 802
milhões, com 180 milhões
dedicados a Mbappé e 128
milhões a Neymar. Nos alemães,
destaque para os 75 milhões
atribuídos a Joshua Kimmich e
os 72 milhões de Gnabry, os
mais valiosos.

j


Valor de mercado


-Neymar teria de ser uma das rotas
sob vigia do internacional germâ-
nico. Descaído no meio-campo so-
bre a esquerda, Paredes pode usar o
pé mais forte para quebrar o bloco
médio do Bayern e colocar de ime-
diato em Neymar, de frente para a
baliza para rematar ou alimentar os
dois sprinters. Resta saber se o argen-
tino continuará em campo, uma vez
que o influente Verratti está recu-
perado. Também Kimpembe, com o
argentino anulado, pode assumir a
verticalidade da construção. Outra
parte da atenção tem de estar em
Mbappé, que aposta em constantes
movimentos para sobressaltar a de-
fesa e abrir espaços para os compa-
nheiros. Em momento defensivo, o
Bayern pode absorver o espaço en-
tre linhas, juntando os blocos, e ser
ainda mais pressionante, mas con-
tinuará a ter de controlar a profun-
didade.

GNABRY E MÜLLER...
É uma das figuras desta Liga dos
Campeões. O internacional alemão
trasvestiu-se de Robben diante do
Lyon e poderá, mais uma vez, ser
um dos mais perigosos do Bayern. O
duelo com Bernat obrigará o espa-
nhol a defender com o pé mais fra-
co, o direito, o movimento preferi-
do de Gnabry, desenhado
propositadamente para acionar o pé
mais forte, o esquerdo. O papel de
Paredes (ou Verratti) e Kimpembe
pode ser determinante no controlo
desse espaço. Já Thomas Müller terá
um jogo ao seu gosto, já que será
obrigado a encontrar o espaço, como
tanto gosta, num meio-campo mui-
to povoado. Quanto mais perto da
área estiver mais perigoso se torna,
face à capacidade de segurar e dis-
tribuir, com processos simples, como
o demonstram o número de assistên-
cias para golo (26 em todas as com-
petições), além de tentar finalizar
quando pode (14).

AS BOLAS PARADAS
Em Lisboa, os golos de Bayern e
PSG têm sido quase todos de bola
corrida. A destacar os livres indire-
tos que resultaram no 3-0 ao Lyon
por Lewandowski e no 1-0 ao
Leipzig, assinado por Marquinhos.
No jogo aéreo dos gauleses, alimen-
tando pelo brilhantismo técnico de
Neymar e Di María, destaca-se ain-
da Thiago Silva, que fará o último
jogo pelo PSG. Do lado alemão, há
ainda a consistência de Pavard e Boa-
teng, referências na área para as bo-
las paradas.

FRANCK FIFE/AFP
Neymar
e Lewandowski
são os homens
mais perigosos
de duas equipas
que são,
contudo, muito
mais do que
apenas os seus
maiores
finalizadores.
Porque há muita
(e boa) gente
a brilhar

MIGUEL NUNE/ASF
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