VOO LIVRE REVISTA LITERÁRIA - ANO 1 - Nº 2

(MARINA MARINO) #1

Cantiga do amigo


Eu queria fazer-te de novo,
Nem melhor nem mais belo
Tu mesmo
Mais meu


Para isso plasmar-me de ti,
Mas de ti me fazendo
Em mim
Tu sejas o mesmo que eu,
Para eu ser em ti.
Nem a flor conhece o ramo
Nem à pétala a sua rosa
Como o que eu quero de ti
E a vivência mais perfeita
E a identidade mais plena:
Água no mar,
Folha no ramo.
Perfume na flor
Do teu corpo estrutura-me,
Do meu leite te nutrires,
Tu fazendo-me, eu fazer-te.


"Cantiga de Amigo" era, na poesia medieval
portuguesa, a declaração de amor de uma mulher a
um homem. (N. do Escritor)


Tradução
(de um poema de Maurice de
Maeterlinch)

E se um dia ele voltar
Que quer você que eu lhe diga?
Foi longo o meu esperar
Até morrer, minha amiga.

Se mais me pergunta, então,
Sem nem me reconhecer?
Fale como a um irmão,

Talvez esteja a sofrer.

Se perguntar com voz mansa,
Ela onde foi se esconder?
Dê-lhe então minha aliança
Sem nada lhe responder.

E se eu for interrogada,
Porque a sala está deserta
Mostre a lâmpada apagada
Tudo escuro e a porta aberta.

E se ele me interrogar
Sobre a hora da agonia
Para ele não chorar,
Diga-lhe então, que eu sorria.
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