Exame - Portugal - Edição 437 (2020-09)

(Antfer) #1
SETEMBRO 2020. EXAME. 113

Numa altura em que as capacidades
de liderança estão a ser postas à prova um
pouco por todo o mundo, este livro sur-
ge não só como uma oportunidade mas
também como uma espécie de tábua de
salvação para quem o escreveu – “além
de que foi uma forma de pôr um 'certo'
neste objetivo, que já tinha há tanto tem-
po”, confessa com uma gargalhada antes
de explicar: “A minha mãe é uma mu-
lher muito ativa. Quando ficámos todos
em casa, começou a ser muito complica-
do gerir o facto de estar sozinha, sem po-
der fazer os seus cursos, passeios, ir aos
lugares onde gosta de ir. Como ela gosta
muito de escrever, pedi-lhe para me aju-
dar a concluir este projeto: selecionar as
histórias, encontrar novas, reunir tudo.”


HISTÓRIAS COM PROPÓSITO
Cada história real presente no livro é, de-
pois, comentada por Isabel, que com a
ajuda de vários autores explica como pode
ser aplicada à gestão de uma empresa ou
equipa. “A da construção da catedral [de
St.Paul], por exemplo, fala do propósito
do sentido da vida. A de Florence [Cha-
dwick, recordista na travessia do Canal da
Mancha] foca-se no que conseguimos fa-
zer quanto temos objetivos. É muito fácil
as empresas deliciarem-se com os currí-
culos, mas esquecerem-se das pessoas.”
Por isso, espera Isabel, este livro pode fun-
cionar como uma espécie de “chamada de
atenção para a vida”.
Em tempos novos, as ferramentas não
têm obrigatoriamente de ser diferentes.
Para Isabel, as narrativas que escolheu,
“que são histórias banais”, são no entan-
to recheadas de bons conselhos, que “aju-
dam a fazer ressoar algumas mensagens
mais inspiradoras”. E precisamente ago-
ra, quando todas as empresas estão a ser
obrigadas a repensar a sua forma de es-
tar e atuar, “agarramo-nos aos valores, às
formas de estar. E acho que este pode ser
um livro que nos ajuda nesta nova fase”. A
jornalista, que é também empreendedora,
não se coíbe de admitir que estes são exem-
plos que a ajudam no seu próprio caminho.
Questionada sobre por que razão escolheu
18 histórias, e não 20 ou outro número re-
dondo, atira em jeito de brincadeira que,
“se quiser, para atingir a maioridade”, ter-
minando com uma gargalhada. “Acho que
estas passavam todas as mensagens que
achava importantes. Não eram precisas
mais, nem menos.” Mas não descarta uma
nova edição do género, “assim apareçam as
histórias e as mensagens relevantes para
nós. Mensagens que sejam positivas, que
sejam um reflexo daquilo que, para nós, é
importante. Importa, sobretudo em termos
de dificuldade, ter consciência de que há
sempre situações piores [do que aquelas
que estamos a atravessar] e saber valori-
zar o que temos. É preciso ter ferramentas
para ir buscar forças para tirar o melhor
partido das situações”, remata, explicando
que foi isso que também tentou fazer com
a mãe, Carminda. Ou seja, tirar o melhor
partido do confinamento, mesmo estando
fisicamente longe uma da outra; aprovei-
tar a família, os interesses comuns; resis-

tir juntas e levar a cabo, em dois ou três
meses, um projeto que tinha estado pra-
ticamente uma década dentro da gaveta.
Uma das lições que Isabel aproveitou
para reforçar durante a conversa com a
EXAME sobre o novo projeto, por exemplo,
é o facto de a falha e o erro fazerem parte
do caminho. Um cenário que é muito nor-
mal, por exemplo, nos EUA, mas que só há
uns anos passou a ser menos “malvisto”
por terras lusas – e muito por responsabi-
lidade do ecossistema empreendedor que
se instalou no País. A tolerância ao erro é
fundamental para acertar o passo e para
crescer (uma das histórias que aborda di-
retamente este tema no livro é a intitulada
Elementar, meu caro Watson).
Mas o Storytelling para Líderes aju-
da também a sublinhar a importância
de ter os objetivos sempre bem presen-
tes para não perder a esperança (Florence
e o nevoeiro); recorda a quantidade de
filtros que nos impedem de ver o mun-
do em todo o seu esplendor e potencia-
lidades (O violinista de rua); sublinha a
importância da dedicação, experiência e
serenidade para ultrapassar obstáculos
(Quando o azar encontra a preparação)
e relembra como a existência de um pro-
pósito pode alterar todo o sentido de uma
vida (O construtor da catedral). Estes são
alguns dos episódios preferidos de Isabel
Canha – desafiada a construir um pódio,
somente não consta a história que abor-
da o azar. Se a mãe, Carminda, tivesse de
escolher, optava por A boneca de Kafka


  • uma importante lição sobre inteligên-
    cia emocional; O fémur partido, sobre o
    cuidado com o próximo; Elementar, meu
    caro Watson e, ae xequo, destaque para
    Há alguém mais visionário do que eu?,
    sobre ousadia, coragem e risco.
    Depois de cada um dos comentários
    às histórias, que funcionam também
    como uma espécie de conselhos para ges-
    tores, Isabel Canha decidiu acrescentar
    alguns aforismos e citações, que escolheu
    propositadamente para a respetiva his-
    tória. “Adoro aforismos, porque são jo-
    gos de palavras e funcionam lindamen-
    te como mensagem final”, admite. E a
    EXAME acrescenta, também em jeito de
    conclusão e recorrendo a Blaise Pascal:
    “O mundo está cheio de boas citações; só
    falta aplicá-las.” Agora já falta menos. E


STORYTELLING
PARA LÍDERES
AUTORes
Isabel Canha com
Carminda Canha
PÁ G I N A S
110
EDITORA
Redcherry
Conjunto
de 18 histórias
comentadas,
escolhidas pela
sua mensagem
inspiradora e moral
edificante, para
ajudar a formar
a próxima geração
de líderes.
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