Exame - Portugal - Edição 437 (2020-09)

(Antfer) #1

  1. EXAME. SETEMBRO 2020


vidade económica e pelo impacto adverso
sobre as condições do mercado de trabalho
e do rendimento dos particulares, poderá
acentuar desenvolvimentos recentes nes-
te mercado, contribuindo para uma corre-
ção dos preços, que apresentavam sinais de
sobrevalorização”, afirmou o regulador no
seu último relatório de estabilidade finan-
ceira. A apreensão estende-se ao imobiliá-
rio não residencial, que o supervisor consi-
dera apresentar “uma maior sensibilidade
cíclica, podendo também ser afetado ne-
gativamente por uma menor procura por
parte de não residentes, que têm dominado
a transação de imóveis nos últimos anos,
e mesmo por residentes, face ao provável
recurso acrescido ao trabalho remoto nos
serviços”.
Os últimos anos foram marcados pela


LOGÍSTICA É A NOVA “RUA
AUGUSTA” DO NÃO RESIDENCIAL.
ESCRITÓRIOS RESISTEM

O mercado de imóveis relacionados com o turismo
e o retalho está sob pressão. Mas há segmentos que
provaram o seu valor, em tempos de pandemia

As consequências da crise
sanitária fizeram tremer muitos
segmentos do mercado imo-
biliário não residencial. Houve
negócios suspensos, reavalia-
ções de investimentos e o apetite
de entidades estrangeiras, que
estavam a dinamizar o mercado,
ficou em suspenso. A juntar à
incerteza económica que compli-
ca as decisões de investimento
das empresas, o período de
confinamento demonstrou que é
possível aumentar o recurso ao
teletrabalho, o que também pode
influenciar o rumo do mercado de
escritórios.
O mercado não residencial de-
verá ser mais rápido a ajustar-se
à crise do que o de imóveis para
habitação. “Apresenta uma maior
sensibilidade cíclica, podendo
também ser afetado negativa-
mente por uma menor procura

por parte de não residentes,
que têm dominado a transação
de imóveis nos últimos anos, e
mesmo por residentes, face ao
provável recurso acrescido ao
trabalho remoto nos serviços”,
afirma o Banco de Portugal no
último relatório de estabilida-
de financeira. E esse impacto
aparenta ter já chegado. “A atual
conjuntura abrandou fortemente
o crescimento que o mercado
imobiliário nacional vinha a re-
gistar ao longo dos últimos anos,
com a maioria dos operadores
ou intervenientes no mercado a
adotarem uma atitude cautelo-
sa”, observa Andreia Almeida,
diretora de research da Cushman
& Wakefield, num relatório.
Nos escritórios, a consultora indi-
ca que “a suspensão generaliza-
da dos processos de tomada de
decisão gerada pela atual conjun-

falta de stock no mercado imobiliário, o
que ajudou a catapultar os preços. Mas as
dinâmicas da oferta e da procura podem
já ter mudado, apesar de os preços ainda
não o terem refletido. “Parece ser eviden-
te que o mercado de habitação já entrou
numa nova fase do ciclo imobiliário. Neste
momento, podemos afirmar com alguma
certeza que a atual fase de subida termi-
nou. Esta fase foi relativamente curta, teve
cerca de cinco anos. Mas em alguns merca-
dos, como é o caso de Lisboa, verificaram-
-se as maiores taxas de crescimento reais
de que há registo.” Segundo os dados mais
atualizados do INE, o índice de preços da
habitação subiu quase 60%, entre meados
de 2012 e o final de março deste ano. Em
Lisboa e no Porto houve freguesias, como
Santo António, Penha de França, Alcânta-

ra, Bonfim, Misericórdia e Cedofeita, por
exemplo, em que os preços duplicaram en-
tre o início de 2016 e março de 2020.
Joaquim Montezuma nota que, ainda
antes da pandemia, já existiam indicado-
res de alerta: “A taxa de esforço média em
Lisboa, e não estou a falar das zonas cen-
trais de Lisboa onde se concentra a pro-
cura estrangeira e o alojamento local, era
já superior à taxa de esforço nos bairros
mais caros de Londres”, afirma. Salienta
ainda que houve um “enorme crescimento
da oferta de habitações usadas com pre-
ços acima dos 700 mil euros, nos últimos
três anos”. E o sócio gerente da ImoEcono-
metrics conclui: “Naturalmente, isto não é
sustentável, com ou sem pandemia.” Essas
zonas que tiveram subidas mais exuberan-
tes nos últimos anos poderão ser agora as

tura teve uma maior expressivi-
dade na atividade do mercado de
escritórios ao longo do segundo
trimestre”. Na Grande Lisboa, o
volume de ocupação nos primei-
ros seis meses de 2020 registou
uma quebra homóloga de 23 por
cento. Já no Porto, o mercado foi
mais resistente, muito à conta
da concretização de transações
que já se encontravam numa
fase avançada de negociação,

resultando num crescimento de
38 por cento.
A Cushman & Wakefield nota que
os proprietários têm mostrado
disponibilidade para conceder
mais incentivos aos clientes
devido às expectativas de quebra
nos volumes de ocupação. E isso
pode ter ajudado os valores de
arrendamento a manterem-se
estáveis. Essa tendência deverá
manter-se, dada a “atual escas-
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