Exame - Portugal - Edição 437 (2020-09)

(Antfer) #1
SETEMBRO 2020. EXAME. 73

APENO admite não ter a certeza sobre as
razões concretas, mas aponta caminhos.
“O problema é que não há associativismo,
e deveria haver uma força maior, sobre-
tudo lá fora. Não sei exatamente o que é
que podemos fazer. Talvez seja também
uma questão de atitude. Talvez devesse
haver uma federação?”, atira, em jeito de
reflexão. E continua: “Ainda não encontrei
país nenhum que me dê, num vinho de
entrada de gama, a relação preço/quali-
dade que dão os portugueses.”
Viajante inveterada, júri regular de
concursos de vinho internacionais como
o Concours Mondial de Bruxelles, Maria
João defende que produtores e institui-
ções têm de fazer mais pela imagem dos


vinhos nacionais. Apela à união dos em-
presários, recordado o tamanho do País,
na certeza de que é possível fazer melhor
por um produto que pode e deve ser um
cartão de visita, sobretudo numa altura
em que o turismo precisa de se reinventar
e recuperar, depois do tombo provocado
pela pandemia da Covid-19.
E, regressando à missão da APENO,
acrescenta: “Temos de juntar esta gente
toda e tentar construir números a partir
do zero, que é algo que vai demorar bas-
tante tempo. Mas, por exemplo, não pode-
mos sequer falar de quanto é que o eno-
turismo contribui para o PIB. Não temos
uma noção. E, portanto, o que queremos
é ter o setor do vinho connosco, no senti-
do mais lato possível. Os grandes produ-
tores têm de estar connosco, não porque
precisam dos nossos serviços – estes são
mais importantes para os pequeninos –,
mas porque precisamos deles para cons-
truir o setor. Vão dar-nos números, vão
dar-nos forças para que, junto do Gover-
no, possamos pedir várias coisas, como o
CAE!”, recorda. “Faz algum sentido que
eu, para fazer uma melhoria numa sala
de provas, só possa pedir financiamento
para, por exemplo, acrescentar quartos no
meu hotel e, depois, usar o dinheiro para
o resto, porque não há linhas concretas
de apoio a este setor? É uma maluquice”,
diz, com um sorriso mas com a determi-
nação de quem quer mudar as regras do
jogo em breve.
Até agora, a APENO já recebeu mais de
100 pedidos de informação de possíveis
futuros associados, e a equipa está a fazer
os possíveis para ir respondendo a tudo
com a maior celeridade possível. “Temos
até pedidos do Brasil, o que é muito in-
teressante”, revela, recordando ao mes-
mo tempo que a associação tem o apoio
tanto do Turismo de Portugal quanto da
ViniPortugal, o que lhe dá a garantia não
apenas de qualidade mas também de res-
guardo institucional em caso de necessi-
dade. A presidente pede, agora, que os
agentes económicos se juntem na missão
de construir um setor que, apesar de ain-
da “oficioso”, é um belíssimo chamariz
de clientes e apreciadores de bom vinho.
E garante que farão os possíveis para pôr
Portugal no mapa dos amantes do vinho
de todo o mundo. E

Vou dizer uma
coisa um pouco
polémica, mas
é a minha opinião:
acho que
os nossos vinhos
são demasiado
baratos”

Maria João Almeida
Presidente da APENO
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