O Jogo - 20200909

(PepeLegal) #1

SUÉCIA-PORTUGAL 0-


DUARTE TORNESI
bbb Quando um rapaz delga-
do, então com a camisola 17,
marcou de cabeça à Grécia no
jogo inaugural do Euro’2004,
dificilmente se poderia imagi-
nar que se estava a iniciar a era
do Rei Ronaldo, o português
que caminha a passos largos
para se tornar o melhor golea-
dor da história ao nível das se-
leções. No mesmo palco onde
fez uma das suas melhores
exibições pela equipa das Qui-
nas, pontuada com um hat
trick, na vitória diante da Sué-
cia (3-2) que abriu as portas do
Mundial do Brasil, o CR7 bi-
sou, chegou aos 101 golos por
Portugal e ficou a apenas nove
de bater o recorde do iraniano
Ali Daei (109).
Em mais uma noite onde
transformou a Friends Arena
no seu “quintal”, Ronaldo res-
pondeu às provocações suecas



  • que espalharam aos sete
    ventos que Portugal jogava
    melhor sem ele – ao juntar os
    nórdicos à Lituânia no topo da
    lista das suas maiores vítimas
    pela Seleção Nacional: marcou


CR101 FAZ A FESTA


EM SOLO SAGRADO


No mesmo palco onde, em
2013, fez um hat trick
numa das suas exibições
mais icónicas pela Seleção,
o avançado bisou e chegou
aos 51 golos noutros tantos
jogos sob o comando de
Fernando Santos


HISTÓRICO Capitão avança a todo o vapor para se tornar o maior goleador ao


nível de seleções e, “sem obsessões”, prometeu chegar lá de forma “natural”


CR7 arrasa de novo

Faltaram aqueles 49 766


bbb O facto de o dia ter ama-
nhecido invernoso em Solna
não representou preocupação
para aqueles que à noite ti-
nham jogo marcado no relvado
do Friends Arena: pela manhã,
a cobertura retráctil do recinto
equipado com LED a toda a vol-
ta esteve fechada e a chuva não


prejudicou o tapete da casa do
AIK Solna e das equipas nacio-
nais suecas. Portugal já conhe-
ce os cantos ao palco onde fes-
tejou o apuramento para o
Mundial do Brasil, em 2014, e
desta vez a novidade foi en-
frentá-lo vazio. Quando Ro-
naldo marcou os três golos,
contra dois de Ibrahimovic, ha-
via 49 766 adeptos nas banca-
das, cuja lotação fica pelos 50
mil lugares. Em tempo de pan-
demia de covid-19, a palavra de
ordem é distanciamento e,
pela segunda vez em quatro

dias, depois do Dragão, Portu-
gal jogou à porta fechada, no
recinto cujo nome peculiar –
Friends Arena, estádio dos
amigos – resulta de uma doa-
ção do Swedbank, o banco que
detinha o “naming” e o cedeu
uma organização que previne
o bullying, Friends. O Friends
Arena é também o palco de
concertos: o próximo é de Ozzy
Osbourne, em dezembro. Os
adeptos fora: ontem, a praceta
quase vazia tinha uns poucos a
aproveitarem para uma corrida
depois do trabalho.

Praça que convida à


enchente de adeptos


permanece vazia e


lembra agora o distan-


ciamento que é regra


Marcar golos
também é para velhos

D


ois golos de fora da área, um de livre e
outro a aproveitar a má colocação do
guarda-redes, e Cristiano Ronaldo
passou os cem golos na Seleção, o primeiro e,
naturalmente, único europeu a fazê-lo e que
parte à procura de Ali Daei, o iraniano que
chegou aos 109 e é o recordista. Não há, nos
dez primeiros, nenhum jogador em ativida-
de, o que também diz alguma coisa – o mais
próximo é o uruguaio Luis Suárez, que não
chega aos 60 e tem 33 anos e meio. Qualquer
dia é preciso um “Guinness” só para o CR7,
porque são tantos os recordes que já não
chegam as páginas de um livro. Aos 35 anos e
meio, com 17 de carreira na Seleção, o
madeirense tem mesmo hipóteses de
destronar Ali Daei.
Vinha de um problema num dedo do pé, mas
viu-se que estava focado no objetivo. Do golo,
da vitória, da centena. É um animal de
competição, é uma máquina de rematar à
baliza, que desenvolveu essa especialidade. E
que sabe dosear o esforço e tem uma equipa

Os seus três melhores anos
na Seleção foram já depois
dos 30 anos e isso não é
assim tão pouco habitual
como isso. O inglês Alan
Shearer marcou mais de
metade dos seus golos
depois dos 29 anos

que também sabe que deve jogar para ele.
Não sei até quando vai jogar, se calhar não até
aos 40 anos, mas mais dois ou três é bem
capaz disso.
Messi tem uma média de golos por jogo na
seleção de 0,51 e também fica atrás dos 101
em 165 jogos do CR7. O jogador argentino
tem um lado estético que nunca perdeu,
Ronaldo deixou esse lado estético para se
converter no tal bombardeiro, num especia-
lista de atirar à baliza. Não sei se terá havido
outro jogador na história com esta conversão
e esta eficácia, porque evoluiu para um tipo
de jogo que é bem diferente do que fazia nos
seus primórdios. Percebeu o que é realmente
decisivo no jogo e que tem um jeito especial
para fazer – marcar golos.
Os seus três melhores anos na Seleção foram
já depois dos 30 anos e isso não é assim tão
pouco habitual como isso. O inglês Alan
Shearer marcou mais de metade dos seus
golos depois dos 29 anos. Há um saber na área
que se ganha com o tempo, com certos
falhanços, também. 60% dos golos de
Cristiano foram em qualificações para
Europeus e Mundiais (30+31). Mais 16 em
fases finais (9+7). E quatro na Liga das Nações,
além de dois na Taça das Confederações. E
chegou aos 17 em amigáveis, que agora quase
já não há. É um número impressionante e
que toca tudo.

Manuel
Queiroz

Opinião


MELHORES GOLEADORES DAS SELEÇÕES
1.o Ali Daei (Irão, de 1993 a 2006)
109
2.o Cristiano Ronaldo (Portugal, desde 2003)
101
3.o Ferenc Puskás (Hungria, de 1945 a 1956)
84
4.o Kunishige Kamamoto (Japão, de 1964 a 1977)
80
5.o Godfrey Chitalu (Zâmbia, de 1968 a 1980)
79
6.os Hussein Saeed (Iraque, de 1976 a 1990)
78
Zainal Abidin Hassan (Malásia, de 1984 a 1996)
78
8.o Pelé (Brasil, de 1957 a 1971)
77
9.o Bashar Abdullah (Kuwait, de 1996 a 2007)
75
10.o Sunil Chhetri (Índia, desde 2005)
72

MELHORES GOLEADORES DE
SELECÇÕES DA EUROPA
1.o Cristiano Ronaldo (Portugal)

165 jogos (^101)
2.o Ferenc Puskás (Hungria e Espanha)
89 jogos 84
3.o Sándor Kocsis (Hungria)
68 jogos 75
4.o Miroslav Klose (Alemanha)
137 jogos 71
5.o Gerd Müller (República Federal da Alemanha)
62 jogos 68
6.o Robbie Keane (República da Irlanda)
146 jogos 68
7.o Zlatan Ibrahimović (Suécia)
116 jogos 62
8.o Robert Lewandowski (Polónia)
110 jogos 60
9.o Imre Schlosser (Hungria)
68 jogos 59
10.o David Villa (Espanha)
98 jogos 59
AS PRINCIPAIS
VÍTIMAS DE
RONALDO
Andorra,
Arménia, Letónia
e Luxemburgo
Estónia, Ilhas Faroé,
Holanda e Hungria
Lituânia
7 e Suécia^54
sete golos a cada uma dessas
seleções. “São opiniões. Já ti-
nha deixado marca neste está-
dio e sabia que, se jogasse hoje
[ontem], ia deixar marca outra
vez. Não ligo a provocações.
Quando tenho de provar algu-
ma coisa, faço-o em campo”,
sublinhou o CR7, que ontem
marcou o seu 54.º golo de livre
direto, o 10.º pela Seleção.
Revelando não estar “obce-
cado” em ultrapassar o recorde
de Ali Daei, Ronaldo falou do
seu entusiasmo por estar inse-
rido num grupo jovem e am-
bicioso comandado por Fer-
nando Santos, técnico com o
qual marcou 51 golos noutros
tantos jogos por Portugal. “Es-
tou muito feliz com a vitória,
que era um objetivo, e, obvia-
mente, com a marca dos 101 a
ser alcançada com dois gola-
ços. Bati uma marca que dese-
java. Não vivo numa obsessão,
porque os recordes aparecem
de forma natural. Agora, o fu-
turo a Deus pertence. Gosto
de estar na companhia deste
grupo jovem e deste míster,
que conheço há muitos anos e
para o qual nem há palavras”,
salientou. Por fim, o CR7 uti-
lizou uma curiosa metáfora
para comentar os jogos sem
público: “É o que há. É triste
porque gosto de ser assobiado
quando jogo fora. Dá-me pica!
É como ir ao circo e não ver pa-
lhaços.”
GOLOS REDONDOS
GOLO DATA RES. Adversário
1 12.06.2004 1-2 Grécia
25 12.10.2010 1-0 Islândia
50 26.06.2014 2-1 Gana
75 24.06.2017 1-0 N. Zelândia
100 8.09.2020 2-0 Suécia
Mario Cruz / EPA
Quarta-feira, 9 setembro 2020
http://www.ojogo.pt
t twitter.com/ojogo^7

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