A Bola - 20200909

20 A BOLA

Quarta-feira

9 de setembro de 2020

FC PORTO

Futebol

Que os dragões não esperem um Jardel dMas, sim, um ‘9’ como... Lewandowski dDescoberto

em clube minúsculo, brilhou na formação do Flu e quase acabou a carreira aos 18 por desgosto

‘Lewanilson’ faz quase tudo

só não voa sobre os centrais

S

ÃO PAULO — A alcunha,
«Lewanilson», diz tudo:
os adeptos do Fluminense,
autores da comparação
com o craque polaco do
Bayern Munique, sabem que o joga-
dor que o tricolor transferiu para o FC
Porto vale ouro. «E valerá muito
mais», acham, entretanto, quatro
jornalistas e um analista de desem-

penho contatados por A BOLA que,

por sua vez, comparam o estilo de

Francisco Evanilson Barbosa de

Lima, 20 anos, a Gabigol, do Fla-

mengo, ou Richarlison, do Everton.

Só lhe apontam um defeito: o jogo de

cabeça. Que os dragões não esperem,

portanto, um novo Jardel a voar so-

bre os centrais.

Evanilson, no entanto, nasceu na

mesma cidade de SuperMário – For-

taleza. E, como ele, começou num

clube pequenino da capital do esta-

do do Ceará (no caso de Jardel, o

Ferroviário, no caso de Evanilson, o

Estação) de onde rumou, ainda ado-

lescente, para um grande do Rio de

Janeiro (SuperMário para o Vasco da

Gama, Lewanilson para o Flu). Ao

chegar a Xerém, a academia do tri-

color, descoberto por um olheiro do

clube para a região nordeste, o refor-

ço portista sofreu.

«Cheguei para fazer testes nos

sub-14», recordou o ponta-de-lan-

ça num podcast do site GE gravado

a 7 de agosto. «Além de mim, o Flu

trouxe mais cinco jogadores. Eu achei

Por

JOÃO ALMEIDA MOREIRA

correspondente de A BOLA no Brasil

que não fosse passar, no primeiro

treino coletivo só joguei 10 minu-

tos, mas no segundo já mostrei o

meu trabalho e fui aprovado. Um

dos outros também foi aprovado mas

na passagem para os sub-15 acabou

dispensado. E eu fiquei sozinho no

Rio e tive de começar a fazer as mi-

nhas panelinhas [ndr: gíria para cír-

culo de amizades].»

No novo clube começou como

razoável extremo, de um lado e de

outro, mas tornou-se, já no fim do

período de formação, um ótimo pon-

ta-de-lança. Como ponta-de-lan-

ça, foi cedido ao Samorin, da se-

gunda da Eslováquia, com quem o

Flu mantinha um protocolo de coo-

peração. «Era tanto frio que nem

consegui acabar o primeiro treino,

um dia levei uma bolada na orelha,

fiquei com a orelha tão gelada, que

tive de ir para o balneário passar

água quente para não congelar.»

Mesmo congelado, jogou seis vezes

e marcou três golos.

Antes de rumar à Europa, no

entanto, esteve para abandonar a

carreira, ainda com 18 anos. O mo-

tivo foi a morte da sua mãe, Maria

Madalena. «Atrapalhou muito o

meu desenvolvimento, eu fui para

Fortaleza e depois não queria vol-

tar, queria largar o futebol, só vol-

tei porque a minha mulher e os

meus agentes me convenceram, e

aí fui para Samorin e voltei a encon-

trar o meu melhor futebol, antes

eu pensei em parar de jogar, hoje

eu acredito que ela esteja orgulho-

sa lá de cima», afirmou o jogador

de 20 anos ao GE.

Como o Flu estava carente de um

9 — o veterano Fred ainda não ha-

via regressado ao clube — Evanilson

foi logo atirado às feras. «Dada a ca-

rência do Flu na posição começou

desde logo a titular e já marcou 11 go-

los, dois no ano passado e nove este

ano», recorda Thiago Lima, jorna-

lista do Globoesporte que acompa-

nha o dia a dia do tricolor. Os dois do

ano passado foram na casa do Co-

rinthians, perante dezenas de milha-

res de gaviões boquiabertos, numa

vitória por 2-1, que serviu de cartão

de visitas: era o primeiro jogo de

Evanilson a titular.

Hoje vive o seu melhor momen-

to. «É tudo o que sempre quis, des-

de que vim do Estação [ndr: clube

que lançou o ex-leão Mota] preparei-

-me para isto, como a maioria dos jo-

gadores que vêm da base dos clubes,

eu primeiro quero triunfar no plan-

tel profissional, e só depois cumprir

esse sonho, que é um sonho admi-

to, de jogar na Europa», dizia no

mês passado o hoje dragão. «Acho

que ele tem potencial para ser um Ri-

charlison, que hoje o Carlo Ance-

lotti, no Everton, chama de um dos

dez melhores atacantes que trei-

nou», diz Paulo Vinícius Coelho, co-

lunista do jornal Folha de S. Paulo.

Para Thiago Lima, «ele atua ao

estilo de Gabigol, sai da área, tabe-

la bem, corre muito, entrega-se,

ajuda na marcação». «Tem o perfil

do ponta-de-lança atual: ataca o es-

paço, trabalha com os dois pés, tem

físico, boa velocidade», acrescentou,

na rede social Twitter o analista de

desempenho Renato Rodrigues.

«Tem boa força, boa finalização,

achei uma ótima jogada de merca-

do do FC Porto», diz ainda Jorge Ni-

cola, comentador dos jogos da Liga

NOS na ESPN Brasil. Marca de todas

as maneiras menos de cabeça. Não

é definitivamente um Jardel.

Têm a palavra

BOA FINALIZAÇÃO

É bom jogador, tem boa

finalização, joga de ponta-de-lança

mesmo, mas é móvel e atua bem a

correr nas costas da linha da defesa. É

rápido, forte e tem boa técnica

também para realizar trocas de

passes. Como ponto fraco, eu diria o

jogo aéreo, tanto para marcar golos

como para disputar bolas lá no alto

com os defesas. Mas tem apenas 25

jogos e 11 golos como profissional,

pode evoluir. Já jogou uma ou outra

vez nas pontas mas ele é melhor

mesmo entre os centrais para poder

disparar nas costas da defesa e

finalizar

MATHEUS SACRAMENTO

ESPN Digital

COMO... RICHARLISON

Echo que ele tem o potencial para

ser um Richarlison, que hoje o Carlo

Ancelotti, no Everton, chama de um dos

dez melhores atacantes que treinou. Por

virem ambos das escolas do Flu, acho-os

parecidos, um lembra-me o outro. Acho

que ele vai jogar bastante no FC Porto.

Ele está a amadurecer. É um 9 mas que,

como abre espaço pelos lados e tem

velocidade, pode jogar aberto num

4x1x4x1, num 4x2x3x1, num 4x3x3, e

entrar em diagonal. Mas é, em potencial,

um ótimo ‘9’

PAULO VINÍCIUS COELHO

colunista Folha de S. Paulo

ACERTA NA ESCOLHA

Tem o perfil do ponta-de-lança

atual: ataca o espaço, trabalha com os

dois pés, tem físico, boa velocidade. E

ainda com margem de progressão

enorme. Acerta na escolha, ao preferir o

FC Porto ao Crystal Palace, vai para uma

ótima porta de entrada na Europa e

jogará numa liga em que terá mais

minutos e oportunidades para se

desenvolver

RENATO RODRIGUES

analista de desempenho

ELE É MUITO BOM

Acho que ele é muito bom! Ponta-

-de-lança típico, tem boa força, tem boa

finalização, ainda precisa amadurecer um

pouco, mas achei uma ótima jogada de

mercado do FC Porto, que pagou um

preço bem razoável

JORGE NICOLA

comentador dos jogos da liga portuguesa

no Brasil na ESPN

ESTILO... GABIGOL

Talvez seja o atacante mais

promissor de entre todos os que

surgiram no Brasil em 2020. Mesmo só

com 20 anos, sente-se à vontade na

equipa profissional. Na formação,

jogava sobretudo nas pontas até ao

último ano, quando se descobriu um ‘9’

e não parou de fazer golos, sagrando-

-se o melhor marcador do Brasileirão

sub-20 de 2019. Na equipa principal,

dada a carência do Flu na posição

começou desde logo a titular e já

marcou 11 golos, dois no ano passado e

nove este ano. Não é o típico ‘9’, pivô, à

espera de cruzamentos, aliás não fez

ainda golos de cabeça, a deficiência

dele, mas, ao estilo de Gabigol, sai da

área, tabela bem, corre muito, entrega-

-se, ajuda na marcação

THIAGO LIMA

jornalista do GE

Têm a palavra

SÃO PAULO — Evanilson é esperado hoje no Dragão para assinar um contrato vá-

lido para as próximas cinco temporadas, num negócio intermediado pelo agente por-

tuguês Jorge Mendes e que implicará um investimento da SAD portista próximo dos

dez milhões de euros, assegurando 80 por cento do passe. O ponta-de-lança embar-

cou ontem à tarde num voo da TAP que faz a ligação direta entre o Rio de Janeiro e

Pedras Rubras. De acordo com as previsões iniciais, a longa viagem transatlântica ti-

nha conclusão prevista para as primeiras horas desta quarta-feira.

Em trânsito para o dragão

INSTAGRAM/EVANILSON

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