Crusoé - Edição 124 (2020-09-11)

(Antfer) #1

companhia – um dos encontros foi na casa do ministro, em Brasília, e outro no
apartamento de um advogado indicado como “intermediário” da relação. A apuração
preliminar dos procuradores mostra ainda que, com a anuência de Toffoli, a
Odebrecht usou sua velha máquina de lobby no Congresso Nacional, aquela mesma
que abastecia parlamentares com polpudas propinas, para ajudar na aprovação do
nome do ministro para assumir a cadeira no Supremo, em 2009.


Embora os e-mails deixem claro o interesse de Marcelo Odebrecht em manter a
relação estreita com Toffoli depois que ele virou ministro da mais alta corte do país, a
grande maioria das tratativas se refere ao período em que ele comandou a AGU, no
governo Lula. Eram dois, basicamente, os temas de maior interesse da empreiteira. O
primeiro envolvia a construção das usinas de Santo Antônio e Jirau, no rio Madeira,
em Rondônia. Desde o início dos anos 2000 a Odebrecht estava de olho nessa
empreitada. Tanto que fez um acordo com a estatal Furnas para realizar estudos para
avaliar a viabilidade técnica dos projetos.


A empreiteira esperava que, dada a sua precedência no tema, teria caminho livre para
tocar os empreendimentos sem ser incomodada por concorrentes. Mas não foi
exatamente o que aconteceu. Houve alguns embates no caminho, inclusive dentro do
próprio governo e nos tribunais. A Odebrecht tinha, por exemplo, um contrato de
exclusividade com possíveis fornecedores de turbinas para as usinas que passou a ser
questionado. Quando os projetos avançaram, a companhia foi acusada de agir para
limitar a concorrência. Também havia conflitos relacionados aos leilões das duas
usinas. A empresa de Marcelo Odebrecht acabou ficando com o projeto de Santo
Antônio, em 2007, e um consórcio integrado pela Camargo Corrêa, outra gigante da
empreita pilhada nas investigações do petrolão, levou Jirau, no ano seguinte. A AGU
comandada por Toffoli, que chegou a montar uma força-tarefa para tratar do assunto
depois de ser destacado por Lula para dirimir o impasse entre as construtoras aliadas,
era peça chave no processo e catalisou uma parte expressiva do interesse da
Odebrecht, interessada em resolver as querelas a seu favor – por fim, as duas gigantes
acabaram agraciadas.


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O outro tema que levou a Odebrecht a montar guarda na Advocacia-Geral da União
envolvia a discussão bilionária sobre a extinção do chamado crédito-prêmio do IPI. O
assunto era de interesse dos grandes exportadores brasileiros, que poderiam sofrer
sérios prejuízos caso o governo resolvesse voltar a cobrar deles o pagamento do
imposto, do qual estavam isentos havia anos em função de um antigo decreto-lei, do
final dos anos 1960. Era uma guerra que, pelos valores envolvidos, mereceria todos os
esforços para ser vencida – a disputa girava em torno de 200 bilhões de reais. A

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