CARTÃO VERMELHO
Banco Central do Brasil
O Globo/Nacional - Economia
quarta-feira, 16 de setembro de 2020
Banco Central - Perfil 1 - Paulo Guedes
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Autor: MARCELLO CORRÊA, GERALDA DOCA E
GUSTAVO MAIA
Após a repercussão negativa dos planos da equipe
econômica de congelar aposentadorias e pensões para
financiar o Renda Brasil, o presidente Jair Bolsonaro
cancelou as discussões sobre o programa, desenhado
para substituir o Bolsa Família e o auxílio emergencial.
Apesar da declaração que aumentou as incertezas
sobre o futuro da rede de assistência social a partir do
ano que vem - , auxiliares afirmam que a ideia de
ampliar o benefício não está descartada. A expectativa
é que as conversas continuem nos bastidores do
governo e do Congresso.
A decisão de Bolsonaro evidencia um impasse entre o
interesse em criar uma marca própria no social, o que
também traria dividendos eleitorais na campanha de
2022, e a escassez de recursos no Orçamento para
ampliar políticas assistenciais. O veto do presidente foi
comunicado na manhã de ontem, após reunião com o
ministro da Economia, Paulo Guedes. Na véspera, o
secretário especial da Fazenda, Waldery Rodrigues,
havia concedido entrevistas nas quais defendeu deixar
de reajustar benefícios previdenciários pela inflação por
dois anos. A ideia era reduzir gastos obrigatórios e
flexibilizar o Orçamento para criar novas despesas -
como o Renda Brasil.
Para o presidente, isso significaria tirar dos pobres para
dar aos paupérrimos. Por isso, decidiu proibir as
discussões sobre o assunto.
- Até 2022, no meu governo, está proibido falar a
palavra Renda Brasil. Vamos continuar com Bolsa
Família e ponto final - disse Bolsonaro, em uma rede
social. - Eu já disse há poucas semanas que eu jamais
vou tirar dinheiro dos pobres para dar para os
paupérrimos. Quem, porventura, vier propor uma
medida como essa eu só posso dar um cartão vermelho
para essa pessoa.
Horas depois, Guedes afirmou que a ameaça de
expulsão não havia sido para ele.
- O cartão vermelho não foi para mim, esclarecendo
todo mundo. Eu conversei com o presidente hoje cedo,
conversamos sobre as notícias dos jornais. Lamentei
muito essa interpretação. Na verdade, tem uma PEC
(proposta de emenda à Constituição) falando
justamente em devolver à classe política o comando dos
orçamentos públicos - disse o ministro, em palestra a
empresários, sobre a PEC do Pacto Federativo, que
prevê ações de ajuste fiscal e está no Senado.
IMPACTO NA POPULARIDADE
A leitura de fontes do governo é que o "cartão vermelho"
de Bolsonaro foi direcionado a Rodrigues, cuja
permanência na equipe é incerta por ter sido o porta-voz
da proposta impopular. Segundo fontes do Palácio do
Planalto, ele se reuniu com Bolsonaro ontem e, por
enquanto, segue no cargo. Perguntado sobre uma
possível demissão do secretário, o Ministério da
Economia respondeu em nota: "Não há informação
sobre o assunto".