Clipping Banco Central (2020-09-16)

(Antfer) #1

MONICA DE BOLLE - A hipóxia da América Latina


Banco Central do Brasil

O Estado de S. Paulo/Nacional - Economia
quarta-feira, 16 de setembro de 2020
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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Autor: MONICA DE BOLLE


Na lista de países com o maior número de mortes
diárias por milhão de habitantes, vidas ceifadas pela
Covid-19, os dez primeiros lugares pertencem à
América Latina. Na lista de países com o maior número
de casos diários por milhão de habitantes, há sete
países da região entre os mais afetados. O primeiro
lugar não pertence aos Estados Unidos, mas à
Argentina. O segundo lugar é da Costa Rica, o quarto
lugar é do Peru, o quinto do Panamá, o sexto da
Colômbia, o sétimo do Brasil. Os EUA aparecem na
nona posição, já que a décima pertence ao Chile.


A pandemia chegou à região em fevereiro de 2020,
tendo, assim, dado dois meses para que os governos se
preparassem. Poderiam ter usado esse tempo para
traçar planos de resgate econômico, estratégias de
saúde pública, medidas para proteger as centenas de
milhões de pessoas vulneráveis da região. Do
desperdício emergiram os pulmões dilacerados da
América Latina.


Foram muitos os erros. Lideranças frágeis, instituições


em crise permanente, presidentes como Andrés Manuel
López Obrador no México e Jair Bolsonaro no Brasil que
negaram com veemência a gravidade de um vírus novo
e letal sobre o qual pouco se sabia. O caso mexicano
surpreende bem mais do que o brasileiro já que López
Obrador, apesar de algumas limitações, fez campanha
como "defensor dos pobres" e prometeu uma agenda de
priorização da proteção social em seu país. Até agora,
pouco fez. Bolsonaro...bem, com esse já aprendemos
tudo o que não devemos esperar que faça.

O resultado do fracasso latino-americano está
estampado nos números. Até o dia 11 de setembro
contabilizavam-se quase 7 milhões de casos de covid-
19 nas 5 maiores economias da região, a saber: Brasil,
México, Colômbia, Argentina, e Peru. São centenas de
milhares de mortos, sem contar que os números estão
subestimados devido à má qualidade da coleta de
informações, a falta de testagem, a ausência de
protocolos para o rastreamento de contatos. As quedas
registradas da atividade econômica jamais foram tão
fortes, o desemprego está em alta, e a crise humanitária
tem recaído, sobretudo, na população mais pobre. Tudo
isso na região que é campeã da desigualdade no
planeta e cujos níveis de pobreza são dramáticos.

Em conferência recente aqui em Washington - o evento
anual da Confederação Andina de Fomento (CAF) - ouvi
dos meus colegas de painel relatos semelhantes aos
que escuto no Brasil. Descaso de governantes, políticas
mal elaboradas, aberturas prematuras de locais de
grande aglomeração, descontrole da pandemia. Em
algumas partes da região fala-se em desordem social,
igual ou pior do que aquela que testemunhamos na
segunda metade de 2019 - parece uma eternidade, mas
foi outro dia.

A economia da América Latina já estava abalada antes
da pandemia. As duas maiores potências econômicas
da região, Brasil e México, resfolegavam para crescer
em meio a contas públicas desarranjadas e ausência de
perspectivas para o resgate do desenvolvimento. Nesse
contexto, quase todos os países da região cometeram
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