Clipping Banco Central (2020-09-16)

(Antfer) #1
Banco Central do Brasil

O Estado de S. Paulo/Nacional - Economia
quarta-feira, 16 de setembro de 2020
Banco Central - Perfil 1 - Paulo Guedes

Durante sua participação no evento online, Guedes
procurou afastar rumores sobre desentendimentos entre
ele e Bolsonaro em relação ao Renda Brasil e disse que
estava com o presidente no momento da gravação do
vídeo que foi publicado nas redes sociais.




ANÁLISE. Carlos Melo


Entre pobres e paupérrimos, Bolsonaro não resolve o
problema de ninguém


A equipe econômica não encontra por onde mitigar os
problemas dos pobres no Brasil, revelados de forma
ainda mais dramática pela pandemia. Precisa fazê-lo
não apenas por questões objetivas, mas também para
atender a demanda da área política do governo, que
encontrou ali um extraordinário manancial de votos que
interessam à reeleição do presidente Jair Bolsonaro.
Contudo, teme piorar ainda mais as condições fiscais do
País, ferindo assim suscetibilidades do mercado
financeiro, sempre vigilante em relação às condições do
governo honrar compromissos com investidores.


Está entre a cruz e a espada e descobre que, de fato,
ninguém é feliz servindo a dois senhores.


É uma contradição sem fim que tem levado membros do
ministério da Economia a dedicarem-se ao esporte do
lançamento de balões de ensaio para erguer, enfim, o
que o governo gostaria de chamar "Renda Brasil", nova
marca de Jair Bolsonaro, aposentando o "Bolsa
Família", trademark do petismo.


A imprensa faz sua parte, divulga o debate interno e dá
expressão a essa contradição e a esse jogo: para
preservar o balanço fiscal - que já é péssimo -, o
governo cogita tirar de aposentados e pobres para dar
aos mais pobres, "os paupérrimos", como diz o
presidente. Não faz isso sem saber que, por
estapafúrdias, são ideias politicamente mortas.


De todo modo, as manchetes chegam à mesa de
Bolsonaro e azedam seu café da manhã; ele sabe do


desgaste que esses balões de ensaio implicam; sabe
também que terá que responder por isso o resto do dia.
Reage do modo que lhe é peculiar, o arroubo. Distribui
descomposturas, ameaça com "cartões vermelhos",
proíbe voltar a especulações em torno do Renda Brasil -
como se esta não fosse uma demanda sua; pede
patriotismo ao mercado, aos supermercados... a quem
quer que seja. Enfim, resigna-se, apenas por ora, ao
"Bolsa Família".

Gostaria que tudo fosse diferente: que a equipe
econômica soubesse fazer mágica com a matemática;
que não houvesse limites fiscais, políticos, que se
cortasse em outros lugares, que Paulo Guedes se
virasse. Mas, Guedes não é Robin Hood, sabe o
suposto efeito de cortar dos ricos, preferiria mexer nos
recursos carimbados pela Constituição, o que não
depende dele - havendo aí também uma enorme
confusão, com rebelião de corporações, bancadas e
setores sociais.

Ao seu modo, o presidente percebe tudo: as saídas são
estreitas, deveriam ser construídas pela política, mas
esse tipo de política não é com ele: faltam-lhe engenho,
arte e paciência. Mais uma vez, joga Paulo Guedes ao
fogo: que arda! O ministro, afinal, é resiliente. E ao fazê-
lo, Bolsonaro posta-se como defensor de pobres e
paupérrimos, numa guerra definitivamente perdida para
eles. No melhor estilo populista, está ao lado do "povo"
sem resolver o problema de quem quer que seja.

CIENTISTA POLÍTICO E PROFESSOR DO INSPER

Assuntos e Palavras-Chave: Banco Central - Perfil 1 -
Paulo Guedes
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