10 ECONOMIA SEGUNDA-FEIRA, 21. 9. 2020 I O DIA
ECONOMIA
MOBILIZAÇÃO DO
FUNCIONALISMO
GANHA FORÇA
AGÊNCIA BRASIL
A
mobilização de
servidores contra
a reforma admi-
nistrativa — que
reformula as regras do
setor público — ganha
força essa semana não só
em Brasília, mas no Esta-
do do Rio também. A Pro-
posta de Emenda Cons-
titucional 32/20 atinge o
funcionalismo de todo o
país e não só o vinculado
à União. Por isso, as enti-
dades representativas das
categorias estão investin-
do agora em movimentos
locais, mas com a pro-
messa de, depois, confor-
me o texto for avançando
no Congresso, se unirem
em atos na capital federal
para tentar barrar a PEC.
Associações e sindica-
tos de categorias da União
decidiram aprofundar os
estudos sobre a propos-
ta e, assim, terem mais
embasamento para a su-
gestão de emendas. Mas
também passarão a inten-
sificar as articulações com
parlamentares na Câmara
Federal já esta semana.
Enquanto isso, em solo
fluminense, o Fórum Per-
manente dos Servidores
Públicos do Estado (Fos-
perj) vai promover dois
atos performáticos na
quarta-feira — das 8h às
10h, na Praça XV (na Es-
tação das Barcas), e das
17h às 19h, na Central do
ATUAIS DE FORA COM O CONGRESSO
ESTRATÉGIA 1 ESTRATÉGIA 2
N A decisão do governo federal
de incluir apenas os futuros
servidores no texto foi estra-
tégica. Apesar de o ministro
Paulo Guedes (Economia) ter
afirmado que essa foi uma re-
comendação do presidente
Jair Bolsonaro, a avaliação dos
técnicos da pasta foi de que,
ao mexer nas regras dos atuais
funcionários, automaticamen-
te haveria uma enxurrada de
ações na Justiça, pois trata-se
de direito adquirido.
N Porém, governistas também
deixaram com o Congresso a
decisão de mexer com os atuais
servidores. E já existe um movi-
mento entre os parlamentares
para aprovar essa medida —
o que não deve vingar pelos
mesmos motivos que fizeram
o Executivo declinar da ideia.
Também ficou com os congres-
sistas a tentativa de incluir ma-
gistrados e promotores na re-
forma, como a coluna informou
na última terça (dia 15).
CONTRA A REFORMA ADMINISTRATIVA
Conforme a
proposta for
avançando,
servidores de todo
o país se unirão
para barrar o texto
CONFIRA
PEC 32
R$ 300 BI
Proposta reformula o
serviço público: acaba
com a estabilidade e
benefícios nos estados,
municípios e União.
Segundo o ministro da
Economia, Paulo Guedes,
impacto nos cofres
públicos será de R$ 300
bilhões em dez anos.
Brasil — e entregar panfle-
tos à população. A ideia,
de acordo com as catego-
rias, é esclarecer a socie-
dade sobre os impactos
da reforma na prestação
de serviços públicos aos
cidadãos.
Enquanto a equipe eco-
nômica do governo Jair
Bolsonaro sustenta que
a PEC é necessária para
melhorar a eficiência da
máquina pública e apro-
ximar as regras do setor
aos parâmetros da inicia-
tiva privada, o funciona-
lismo rebate. Segundo os
servidores, as mudanças
propostas desvalorizam
os profissionais e dão
margem à precarização
do serviço público.
A PEC 32 prevê o fim da
estabilidade para futuros
funcionários públicos, ex-
ceto para as carreiras de
Estado — cujas funções
são exercidas exclusiva-
mente na administração
pública, como Polícia Fe-
deral e Diplomacia, por
exemplo. Também ex-
tingue benefícios, como
adicionais por tempo de
serviço (triênio e quinquê-
nio) e licença-prêmio.
PALOMA SAVEDRA
SERVIDOR
N e-mail: [email protected]
N site: http://www.odia.ig.com.br/colunas/servidor
Justiça garante devolução
de valor pago por imóvel
Unidade estava sem Habite-se e por isso comprador não conseguiu financiamento
RICARDO CASSIANO
Jose Dinis não conseguiu quitar seu imóvel na planta por ter financiamento negado pelo banco
O
Tribunal de Justi-
ça do Rio de Janeiro
(TJ-RJ) deu ganho de
causa ao comprador
de um imóvel que não conse-
guiu pagar a última parcela
do apartamento que adquiriu
na Tijuca, na Zona Norte do
Rio. A unidade chegou a ser
leiloada pela construtora. No
processo judicial, que já dura
cinco anos, o consumidor ob-
teve decisão favorável para re-
ceber o valor que foi pago de
volta. Segundo especialistas,
muitos compradores de imó-
veis passam por esse mesmo
problema, mas só conseguem
ter os direitos respeitados se
forem à Justiça. A empresa vai
recorrer da decisão.
O funcionário do Correios
José Dinis Casimiro, de 57
anos, acreditava que realizava
o sonho da casa própria, mas
não imaginava a saga que iria
enfrentar. Para quitar o saldo
devedor do apartamento com-
prado na planta, no valor de
R$ 533.377, ele precisava pegar
um financiamento de R$ 439
mil, mas não conseguiu por
falta do Habite-se do imóvel.
De acordo com ele, a Cons-
trutora Calçada deveria ter
entregue o empreendimento
pronto em janeiro de 2014,
mas atrasou. O contrato previa
18 meses de construção, mais
seis meses de prorrogação, em
um total de 24 meses.
Para o advogado Carlos
Valença, que representa o
comprador, a construtora
cometeu um erro fatal, ao
atrasar o Habite-se da obra.
“Sem o documento, Dinis
não conseguiu o financia-
mento imobiliário no banco.
Então, a empresa se mobili-
zou para rescindir o contra-
to através de carta no Regis-
tro Geral de Imóveis (RGI),
com prazo de 30 dias para o
meu cliente pagar o que de-
via. Mas ele não tinha como
pagar, sem o empréstimo”,
explica o advogado.
Valença critica a Lei da Alie-
nação Fiduciária (9.514/97),
que permite a construtora e
ao oficial do RGI uma auto-
rização legal para cancelar o
registro em nome do compra-
dor que não quitar o saldo em
30 dias, após o recebimento
da carta. O imóvel volta para o
nome da construtora respon-
sável, que pode vendê-lo, por
um preço atualizado.
“Nesses casos, o compra-
dor só consegue reaver o valor
pago se recorrer ao Poder Judi-
ciário, que geralmente leva-se
anos para resolver”, afirma o
advogado.
MARINA CARDOSO
[email protected]
Sentença cita Código de Defesa do Consumidor
> Como o consumidor
não teve Habite-se, não
conseguiu dinheiro para
pagar e, com isso, a cons-
trutora leiloou o imóvel e
ele não teve a devolução
dos valores já pagos, um
total de R$ 140.080. Por
conta disso, o nome dele
ficou negativado e chegou
parar na lista no Serasa.
Mesmo após a deter-
minação da Justiça, Di-
nis ainda não teve acesso
ao dinheiro. Isso porque
ainda falta a execução de
sentença para calcular o
valor que o comprador vai
receber, incluindo os juros
e correção monetária, além
do ressarcimento das custas
processuais.
“Na vitória em segunda
instância, a 24ª Câmara Cí-
vel do Tribunal de Justiça do
Estado do RJ determinou a
devolução integral a José Di-
nis do total pago pelo imóvel
acrescido de correção mone-
tária e juros”, explica o advo-
gado Carlos Valença que está
à frente da ação.
A sentença assinada pela
desembargadora Maria
Aglaé Tedesco Vilardo, re-
latora do processo, cita ju-
risprudência de que nesses
casos, de acordo com o Códi-
go de Defesa do Consumidor
(CDC), o comprador deve ter
a devolução imediata das
parcelas já pagas.
Durante o caso em primei-
ra instância, aconteceu um
fato peculiar. O processo foi
julgado três vezes, por três
juízes diferentes, que pro-
feriram sentenças também
distintas, lembra o advoga-
do. Isso ocorreu no mesmo
mês durante um mutirão
promovido pela Justiça.
Procurada por O DIA,
a construtora Calçada escla-
receu que “segue rigorosa-
mente o que está previsto
nas normas regulatórias
do mercado imobiliário,
não havendo, até o pre-
sente momento, qualquer
irregularidade em seus
empreendimentos”.
“Cabe ainda ressaltar
que a empresa aguarda
o andamento do referido
processo já que a decisão
exarada pela Vigésima
Quarta Câmara Cível não
transitou em julgado, ou
seja, não há caráter defini-
tivo da decisão”, informou
a Calçada.
Sem o documento, Dinis não conseguiu financiamento
imobiliário. Então, a empresa se mobilizou para rescindir
o contrato. Ele não tinha como pagar, sem o empréstimo
CARLOS VALENÇA, advogado
Unidade na Tijuca não possuía Habite-se. Construtora recorrerá da sentença que garante devolução de valor
RICARDO CASSIANO
PEC 32/2020 chegou ao Congresso Nacional em 3 de setembro