Claude Lévi-Strauss - As estruturas elementares do parentesco (1982, Editora Vozes) - libgen.lc

(Flamarion) #1
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mos paralelos) e deixa os mesmos na categoria dos conJuges autoriza·
dos pelo sistema (primos cruzados e pessoas equiparadas a estes). A
troca restrita levanta, portanto, um problema teórico muito inquietante,
a saber, qual é a relação entre os sistemas de duas metades e os sis-
temas de quatro classes? Como pode acontecer que ao passar de um
ao outro não se veja nenhuma dicotomia dos cônjuges possíveis, e. mais
particularmente, como acontece que os sistemas de troca restrita não le-
vam em conta a dualidade existente no meio dos primos cruzados en·
tre patrilaterais e matrilaterais?
A Austrália é um terreno privilegiado para o estudo destas ques-
tões, e isso por dois motivos. De um lado, oferece, em forma eminen-
temente exata e explícita, os diferentes tipos de sistemas de troca res-
trita, isto é, a organização dualista, o sistema de quatro secções e os
sistemas de oito subsecções. De outro lado, algumas tribos australianas
praticam a distinção entre primos cruzados patrilaterais o matrilaterais,
que entretanto não parece resultar de nenhum dos tipos precedentes.
É o caso de várias tribos do norte da Austrália, principalmente os gru-
pos da Terra de Arnhem estudados por Warner e por Webb. Estes gru-
pos possuem uma organização de oito classes matrimoniais, às vezes mas-
carada como organização de quatro classes, mas somente, ao que parece.
porque as subsecções não são sempre mencionadas.
Uma razão especial deve atrair nossa atenção para essas formas, ge-
ralmente designadas pela nome de sistema Murngin. Este sistema foi
muitas vezes diferenciado dos outros sistemas australianos como excluin-
do a troca das irmãs. Ora, toda nossa interpretação dos sistemas de
parentesco funda-se sobre a noção de troca, que constituiria sua base, ao
mesmo tempo comum e fundamental. A existência do sistema Murngin
no continente que parece, por outro lado, ser o mais favorável a nossa
tese, estabelece um problema essencial que não poderíamos nos dispen-
sar de examinar.
A imensa obra realizada nestes últimos anos na Austrália por Rad-
cliffe-Brown e a admirável equipe da Oceânia forneceu sobre os sistemas
de parentesco australianos dados precisos de Incomparável riqueza, que,
em grande extensão, podem emancipar o sociólogo das pesquisas fre-
qüentemente obscuras de pioneiras tais como Howitt, Mathews, Spencer
e Gillen, etc. Porém, mesmo entre os pesquisadores modernos, nenhum
pretenderia que a tipologia dos sistemas seja perfeitamente clara, nem
que as relações entre eles tenham sido definitivamente estabelecidas. A
este respeito a situação parece antes ter-se complicado nos últimos quin-
ze anos. Em 1931 Radcliffe-Brown tinha proposto a seguinte classifica-
ção geral:


  1. Sistema de duas metades exogãmicas matrilineares.

  2. Sistema de duas metades exogâmicas patrilineares.

  3. Sistema de quatro secções:


a) com metades matrilineares especificadas;
b) com metades patrilineares especificadas;
c) sem metade especificada.

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