no sentido em que a dicotomia do primeiro grau do regime harmôni-
co requer a distinção de tantos elementos quanto a dicotomia do se-
gundo grau do sistema desarmônico Noutras palavras, o sistema genera-
lizado utiliza quarenta e um termos de parentesco, como um sistema
Aranda, e quatro secções, como um sistema Kariera. Por que isto? Por
que não podemos ter um sistema generalizado atuando sobre a distin-
ção de duas metades e de duas linhagens somente? A resposta é evidente,
s saber, neste caso as linhagens se confundiriam com as metades.
É possível, portanto, dizer que os regimes harmônicos são regimes
instáveis, enquanto os regimes desarmônicos são estáveis. Que queremos
dizer com isto? Um regime desarmônico, ao se tornar cada vez mais
complexo, pode exprimir-se através das formas de organização (metades,
secções, sUbsecções) que representam uma progressão contínua no in-
terior de uma mesma série. Ao contrário, os sistemas harmônicos não
podem atingir uma forma de organização complexa Este caráter explica
por que a realização de um sistema de classes é tão rara, em todos os
lugares nos quais o casamento é determinado por uma lei de troca ge-
neralizada. Veremos, com efeito, que, na imensa maioria dos casos, a
preferência pela prima cruzada matrilateral não acarreta a realização de
um sistema estrutural correspondente_
Consideremos com maior precisão o esquema da figura 44. Vê-se pri-
meiramente que a relação existente entre o sistema generalizado e o
sistema Murngin é simétrica mas inversa da que existe entre um sistema
com metades e um sistema Kariera.
O sistema com metades funda-se unicamente sobre a filiação, e os
caracteres, harmônico ou desarmônico, do regime correspondente nele se
encontram confundidos. A passagem ao sistema Kariera faz-se pela intro-
dução de uma dicotomia local, e conseqüentemente aparece o caráter
desarmônico. Inversamente, o sistema generalizado funda-se somente so-
bre a unidade da linhagem. Existe, portanto, uma lacuna que traduz, em
cada regime, o fato desse regime não ser o único. Conforme vimos, a
série desarmônica é desfalcada de um estádio do processo dicotômico
(distinção entre os dois tipos de primas cruzadas); simetricamente, a sé-
rie harmônica, que introduz o estádio que faltava, apresenta outra la-
cuna, a de um sistema com quatro fatores representada, na série de-
sarmônica, pelo sistema Kariera. Verificamos que o sistema generalizado
é ininteligível quando tentamos reduzi-lo quer ao sistema Kariera, menos
complexo no que diz respeito à estrutura, quer ao sistema Aranda, mais
complexo quanto à função. Vimos, também, que não é mais possivel
ver ai uma forma intermediária do mesmo tipo. Na realidade, o sistema
generalizado é, em certo sentido, análogo ao sistema Kariera, e num
sentido diferente, análogo ao sistema Aranda. O sistema em si mesmo
não é intermediário entre os dois, porque pertence a uma série de ou-
tra ordem. Mas sua função é sem dúvida uma função intermediária.
Estas considerações pOdem estender-se ao conjunto dos sistemas aus-
tralianos-. O erro tradicional consistiu em não admitir, como base da
Classificação, senão os grupos com regimes desarmônicos, Kariera e Aran-
da. Ficávamos assim privados de toda possibilidade de compreender os
regimes harmônicos e condenávamo-nos ou a tratá-los como monstruo-
sidades ou a empreender a impossível tarefa de reduzi-los às formas
precedentes.
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