Claude Lévi-Strauss - As estruturas elementares do parentesco (1982, Editora Vozes) - libgen.lc

(Flamarion) #1

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forte presunção no sentido de que, em todos os lugares onde existe, esta
regra seja portanto função de um sistema de troca generalizada, como é,
de fato, o caso na Indonésia. Mas mesmo onde o sistema desapareceu,
ou não é expressamente descrito, o limite da regra da exogamia a um
determinado número de gerações aparece como precioso índice da es-
trutura subjacente.

o sistema Gilyak, como Sternberg o descreve, pode ser representado
no modelo abaixo (Figura 54), que faz ressaltar as lacunas. De fato, e
ao contrário do que indica Sternberg, certos termos particulares aplicam·
se aos clãs dos "genros" e "sogros" afastados, mas são em pequeno
número. Notaremos as numerosas conotações do termo aCk, 5, que se
~plica a ascendentes relacionados com cinco clãs diferentes, assimilação
aparentemente em contradição com o sistema, mas que se encontra na
maioria dos sistemas de troca generalizada. A nomenclatura é bastante
clara, quando é examinada do ponto de vista do Ego masculino: 1 aplica·
se aos membros de meu clã e de minha geração, 6 aos membros de
meu clã das gerações posteriores à minha, 3 e 4 aos homens de meu
clã das gerações anteriores à minha. Toda a linhagem masculina do clã
onde me caso é grupada no tipo lO, a linhagem masculina do clã onde
minha irmã se casa agrupa·se no tipo 11. 7 e 8 são os cônjuges possiveis,
5 e 14 as mulheres dos clãs afastados, ou os parentes afastados dos clãs
próximos. Considerável complicação aparece quando se faz entrar em
linha de conta o Ego feminino, porque as mulheres utilizam a nomen·
clatura dos homens de maneira analógica, mas - sendo o sistema assi-
métrico - aplicam-na a indivíduos diferentes. Assim, um homem aplica
10 à linhagem masculina do cônjuge, isto é, ao irmão da mulher, pai
da mulher, avô da mulher, etc., e ao filho, neto, etc. do irmão da mulher.
A irmã do Ego faz o mesmo, mas de seu próprio ponto de vista, isto é,
classifica em 10 os ascendentes de seu marido. O termo axmalk, lO, tem
pois um duplo sentido, exprimindo, ao mesmo tempo, a relação uni vaca
que une um clã a outro, e, por outro lado, significa simplesmente "avós",
e a mulher o emprega para denominar, efetivamente, seus avós, sem levar
em conta o fato de que seus avós são, ao mesmo tempo, os "genros"
de seu clã. A mesma ambivalência encontra-se nos termos 14, 11, 6 e
5, que estão deslocados de um clã no ciclo, segundO seja um homem ou
uma mulher que os emprega. O desdobramento da nomenclatura não é
evidentemente possivel senão em razão da relação, rigida e global, exis·
tente entre clãs "genros" e clãs "sogros". No interior deste quadro fixo,
onde os clãs situam-se objetivamente, os indivíduos utilizam os mesmos
termos, não para exprimir a ordem invariável do ciclo, mas sua posição
relativa (e variável em função do sexo) com referência a esta ordem.
Seja como for, o desdobramento aparece de maneira particularmente
significativa no uso, respectivamente restrito a cada sexo, de dois termos
recíprocos que se correspondem: oragu, 12, ou pand/ aplica-se entre meu
clã e, de um lado, seus imgi, de outro seus axmalk. Aos três juntos. E
para designar a relação entre axmalk e imgi do mesmo clã, I., isto é, ao
ciclo dos aliados. Enquanto que mavx, 13, se aplica entre mulher, irmã


  1. Sternberg, op. cit., p. 18.


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