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estado civil de cada indivíduo exprime-se por um binômio, que com-
preende um único dos termos do binômio paterno e Um único dos termos
do binômio materno. O binômio dos pais só é reformado na geração
dos filhos de seus filhos. Pode-se por conseguinte dizer que os filhos
se opõem aos pais, mas que os netos reproduzem os avós.
Toda a teoria dos sistemas australianos foi iluminada pela introdu-
ção da noção de gerações alternadas," havendo fatos semelhantes que
se acumularam procedendo dê várias outras regiões do mundo." Sabendo-
se que Granet era pouco cuidadoso nas referências, é possível perguntar
se teve conhecimento desses fatos ou se, a propósito dos documentos
chineses, reinventou independentemente a teoria. Seja como for, funda-se
sobre dois argumentos para postular a existência arcaica na China de
um sistema de gerações alternadas. Primeiramente, a ordem tchao mau,
sobre a qual voltaremos a falar, a qual implica que, nos templos an-
cestrais, pai e filho figurem sempre em categorias diferentes, mas o avô
e o neto apareçam em categorias idênticas;" em seguida a tradição an-
tiga, segundo a qual o nome pessoal é dado pela mãe e o nOme de família
pelo pai." Esta tradição é confirmada pelo uso mais recente dos pei
ten tseu, que individualizam os membros de uma mesma família, de
acordo com a geração e a idade relativa de cada um.
Encontramos, pois, a hipótese de que o sistema chinês arcaico teria
podido fundar-Se sobre a aliança recíproca de dois grupos exogâmicos,
que trocam suas filhas segundo o princípio da equivalência das gerações.
Suponhamos um sistema com quatro classes matrimoniais, com inter-
casamento entre as duas classes da geração superior (pais), e entre as
duas classes da geração inferior (filhos), cada uma delas aparelhadas
duas a duas. Este sistema seria evidentemente fundado no casamento com
a prima cruzada bilateral, ou, mais exatamente, todos os primos cruzados
originários deste sistema seriam bilaterais. Granet volta-se então para a
nomenclatura a fim de descobrir a prova de que o sistema deste tipo
realmente existiu. O termo kou significa ao mesmo tempo "sogra" e
"irmã do pai"; o termo kieou ao mesmo tempo "sogro" e "irmão da
máe", ~:, Entretanto, "homens e mulheres confundem com seu pai os irmãos
de seu pai (tou) e com sua mãe as irmãs de sua mãe (mou). '" A mesma
dicotomia repete-se na geração inferior, de tal modo que bastam quatro
termos para designar os membros da geração superior e os membros
da geração- inferior à do indivíduo. "Daí parece resultar, uma vez que
"pais" e "mães" são esposos e esposas, que "tias" e "tios" são também
esposas e esposos... Esta nomenclatura parece concebida para uma co-
munidade endógama e bipartite, cujas duas secções seriam exógamas"."
Ao duplo sentido dos termos kou e kieou corresponde o duplo sentido do
termo cheng. "Um homem chama "cheng" ao mesmo tempo "o filho de
sua irmã" e o "marido de sua filha". Somente o termo "tche" tem apenas
o sentido de "sobrinha". Esta exceção parece explicar-se pelo desenvolvi-
- Cf. capo XI.
- Cf. capo VIII.
- Granet, Catégories, p. 3·6.
- Idem, p. 83-102.
- Idem, p. 43.
- Idem, p. 165.
- Idem, p. 165.
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