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I:
Ao lado destes fatos existem outros, dificilmente compativeis com
os anteriores. São, primeiramente, os fatos agrupados por Granet com o
nome de fenômenos de obliqtiidade, a saber, costumes senhoriais do
casamento com mulheres pertencentes a duas geraçôes diferentes, e certas
equações da nomenclatura que identificam parentes ou aliados pertencen.
tes a duas gerações consecutivas. São, sobretudo, a dupla classificação
dos aliados em yin e em houen, e a especialização de certos termos de
denominação, recíprocos entre homens ou entre mulheres, sugerindo uma
estrutura assimétrica do grupo.
Estes Indices de obliqtiidade ou de assimetria na nomenclatura foram
objeto de uma análise especial de Fêng.' Conhecem·se cinco termos que
se aplicam aos membros de duas gerações consecutivas:
chiu irmão da mãe, irmão da mulher;
yi irmã da mãe, Irmã da mulher;
po irmão mais velho do pai, irmão mais velho do marido;
shu irmão mais moço do pai, irmão mais moço do marido;
ku Irmã do pai, irmã do marido.
Todas estas relações eram distintas na origem, e o fenômeno de
assimilação em geral pode ser datado. Assim, a extensão de chiu ao
Irmão da mulher remonta ao século X dC. Atualmente, aparecem de-
terminantes para diferenciar os dois costumes: chiu tu, irmão da mãe,
e chiu hsiung ou chiu ti, irmão da mulher, isto é, faz·se a distinção
entre o cl1iu da geração do pai e o chiu da geração do irmão.' A assi·
milação poderia, a rigor, ser interpretada como resultado do casamen·
to com a filha do Irmão da mulher, mas Fêng observa que chiu perde
o sentido de "pai da mulher", ao menos um milênio antes de ser
aplicado ao irmão da mulher, o que parece um argumento decisivo. A
extensão de po e de shu parece a Fêng um fenômeno inexplicável por
todos os usos conhecidos. É possível estar em desacordo com ele sobre
este ponto, aliás de interesse puramente teórico. Um sistema com linha·
gens matrilineares, havendo casamento com a filha do irmão da mãe,
pode admitir o grupamento dos irmãos do pai e dos irmãos do marido,
isto é, dos homens que, do ponto de vista do Ego feminino, tomam
mulher em minha linhagem.' Ku designaria então, normalmente, as irmãs
- H. Y. Fêng, Teknonymy as a Formative Factor in the Chinese Klnship sgstem.
- Ibidem, p. 61, n. 2.
- Em um excelente estudo, inteiramente consagrado aos sistemas falados, H. T. Fel
descreve o sistema da região onde nasceu, a de Wuk1ang. Observa a pobreza dos tennos
utilizados para designar o grupo dos homens que se casaram com mulheres do clã.
Praticamente. só são utilizados tennos descritivos. Fel interpreta esta carência como
possível indice da existência antiga de uma organização dualista (p. 133). Pensa-
riamos, de preferência, em um antigo sistema de linhagens, neste caso como tam-
bém no outro, analisado pelo mesmo autor, do sistema de Xangai, com a dileren-
ciação dos pais e aliados entre homens e mulheres de meu ela. mulheres que se
casaram em meu clã, homens que esposaram mulheres de meu clã, clã da mãe.
clã da mulher (não há termos especiais, utiliza-se a nomenclatura da mulher), clã
do maridó (mesma situação. utiliza-se a nOmenclatura do marido>. Os clãs parecem
verdadeiramente desempenhar o papel de linhagens. Um traço inteiramente notável
dos sistemas descritos por Fei é a completa ausência do termo de parentesco para
as gerações mais jovens seguintes à do individuo. Só os nomes pessoais são uti-
lizados (H. S. Fei. The Problem of Chinese Relationship Terms; Monumenta Serica.
vol. 2, 1936-1937).
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