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como resultado de uma carência terminológica. Ou a lingua não dispõe de
termo especifico para designar o parente em questão ou então o termo
não pode ser utilizado, de maneira provisória ou definitiva, por motivos
de etiqueta. Fêng não é O primeiro etnólogo a empregar o termo em uma
acepção mais ampla, e esta extensão por si mesma não levanta objeções.
Mas é preciso, em todo caso, observar que não é a mesma coisa chamar,
por exemplo, uma mulher, umáe de fulano" ou chamá-la "mamãe", isto
é, chamá-la pelo nome de seu filho ou pelo nome que seu filho lhe dá.
Deve-se, sem dúvida, distinguir as duas formas. Ora, se a discussão de
Fêng apela exclusivamente para a segunda forma, a observação que invoca
para comprovar a antiguidade da tecnonimia na China" depende da pri-
meira. Deixemos esta de lado, pois não intervém para explicar os costumes
em questão, e perguntemos como se pOde interpretar a segunda. Sendo
esta forma de tecnonímia de uso corrente em nossa sociedade, convém
dirigirmo-nos primeiramente aos nossos próprios hábitos.
Suponhamos um conjunto de pessoas de casa composto dos filhos,
do pai, da mãe e da irmã desta. Há anOs esta irmã não é mais designada,
pela mãe dos filhos (sua irmã), pela pai dos filhos (seu cunhado),
senão pelo nome infantil que lhe dão seus sobrinhos e sobrinhas, "titia".
Como se pode interpretar o fenômeno? Há três explicações possíveis.
Se os filhos são os membros do grupo que têm mais prestigio, os
pais confessam o fato adotando a terminologia deles. Ao contrário, os
pais podem adotar a terminologia dos filhos de maneira a não compro-
meter o prestígio da tia, e com isso o de sua própria geração (assim um
pai, falam:(o da mãe a seus filhos, dirá "sua mãe" ou "mamãe", para não
empregar com relação aos filhos a denominação direta de que ele próprio
se serve - isto é, o prenome de sua mulher - e que é proibido para os
filhos). Finalmente, percebe-se uma terceira interpretação, a saber, cada
participante dispõe, com relação à pessoa denominada, de um sistema
de referências diferentes. Ela é "irmã", "cunhada" e "tia". Quando dois
n1embros do grupo, falando entre si, querem referir-se a ela, devem por-
tanto, ou empregar seu próprio sistema, ou adotar o do interlocutor,
o que não é satisfatório em caso algum. A transformação, feita pelas
crianças, do termo de referência em termo de denominação, "tia" trocado
por "titia", fornece uma solução para esta dificuldade. Em suma, "titia"
aparece como um nome pessoal, do ponto de vista da pessoa designada,
e como um termo impessoal do ponto de vista de quem o emprega (isto
é, não implicando uma particular relação de parentesco). Temos portanto
dois princípios de explicação, um fundado em razões afetivas (prestigio),
outro em razões lógicas (necessidade de encontrar um termo comum a
todos os sistemas de referência). e o prjmeiro princípio admite duas in-
terpretações opostas. Vê-se que o problema. da tecnommia não é Simples,
e que, para cada caso considerado, é precíoo determinar qual é o prin-
cipio particular, ou qual é a modalidade particular do mesmo principio,
que se deve invocar. 1 ~
- Ch'ên Ch'i refere·se à sua mulher como "a mãe de Ch'ang", op cit, p. 202.
- Segundo Fei Hsiao-Tung (compete rendu de Fêng, The Chinese Kinship System.
Man, voI. 38, n. 153), as mulheres do Kiangsu começam por chamar seus sogros
usando a terminologia do marido <exceto o sogro, que é designado por um termo
especial e imutável, éinpa), e somente quando têm filhos adotam a terminologia
destes. Um estudo de Hsu sugere também que o problema das denominações. na
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