de reciprocidade em vigor, mas achamo-nos, convém não esquecer, no
Yunnan, isto é, justamente na região na qual Hsu encontra atualmente
uma considerável proporção de casamentos com a filha do irmão da
mãe, e nas cercanias do pais Katchin. Temos, portanto, forte inclinação
a imaginar estes quatro clãs ligados em um ciclo de troca generalizada.
Ora, se houvesse no caso, conforme Oh'en Ting afirma com tanto insis·
tência, a sobrevivência de um uso arcaico, teríamos ao mesmo tempo
urna possivel solução do problema da exogamia anulando-se, entre os
Hsia e os Shang, depois da quinta geração. Um clã A não pode tomar
suas mulheres no interior do clã, mas deve rece1:>ê-las do clã B, que as
recebe do clã C, que as recebe do clã D. São portanto necessárias e suo
ficientes cinco gerações para percorrer um ciclo completo de troca, a
saber, um clã A, que cedeu uma mulher, recupera esta na quinta geração,
em forma da neta da neta da esposa inicial.
Ao mesmo tempo, percebemos uma possivel interpretação de um ca·
ráter muito singular do sistema de parentesco, notado por Fêng. "Durante
os dois primeiros séculos dC, e quando o casamento entre primos cruzados
estava desde há muito fora de uso, os filhos da irmã do pai eram chama·
dos wai (de fora), por exemplo wai hsiung ti, e os filhos do irmão da
mãe eram chamados nei (de dentro), por exemplo nei hsiung ti"." Esta
assimetria aparece posteriormente ao uso simétrico do Ehr Ya, que con·
funde os dois tipos de primos cruzados sob o mesmo termo shêng, mas
é comprova!ia pelo I Li, cuja nomenclatura contudo está de acordo com
a do Ehr: Ya. Vimos que esta nomenclatura (principalmente a extensão
do termo. shêng) sugere o casamento entre primos cruzados bilaterais,
E impossi'vel compreender na mesma perspectiva a assimetria fugitiva
observada por Fêng, isto é, o filho da irmã do pai e o filho do irmão
da mãe são, na mesma maneira, parentes próximos externos. Ambos são
pia0 (equivalente a wai), nenhum pode ser chung (próximo interno, equi·
valente a nei). Mas se os textos não parecem contraditórios a não ser
porque refletem dois sistemas, e se o segundo sistema é do tipo do ca-
samento com a prima cruzada matrilateral, então a assimetria fica escla·
recida, porque, suposto um clã A, o filho do irmão da mãe pertence ao
clã B, que é o mais próximo no ciclo orientado da troca generalizada, ao
passo que o filho da irmã do pai pertence a um clã D, ou n, de qualquer
modo o mais afastado no mesmo ciclo. Como a assimetria dos primos
cruzados e a medida de um ciclo de exogamia por um número fixo de
gerações aparecem em conexão em vários sistemas que ocupam em geral
uma posição periférica com relação à China, " existe, segundO nos parece,
grande pOSSibilidade de que um sistema deste tipo tenha existido também
na China em forma arcaica. A luz destas considerações, pOdemos voltar
agora ao casamento com a filha do irmão mais velho da mulher.
Dissemos a razão pela qual este tipo de casamento deve constituir
a viga mestra de toda tentativa de reconstrução de um sistema primitivo.
Conservamos a intuição de Granet, de que esse tipo pode coincidir com
o casamento com a filha do irmão da mãe. Finalmente, vimos que este
- "Fêng, p. 177. - Cf. também Granet, Catégo1ies, p. 31-32.
- Cf. capo XXIII.
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