CAPITULO XXllI
Os Sistemas Periféricos
o estudo lingüístico comparado dos sistemas de parentesco tibetano e
chinês levou Paul K. Benedict a conclusões muito próximas das nossas,
principalmente à hipótese de que o matrimônio com a prima cruzada
matrilateral constitui um traço arcaico essencial da área considerada.
Sua análise, inspirada em considerações diferentes das que invocamos
até agora, conduz a um resultado de tal modo decisivo que parece indis·
pensável reproduzir as vias principais que conduziram a ele.
A nomenclatura tibetana, tal como a chinesa, apela para termos ele·
mentares e termos derivados. Os termos elementares são em número de
vinte e quatro, doze masculinos, nove femininos e três neutros, sendo
estes últim.os exclusivamente aplicados aos parentes mais jovens do que
o sujeito. Este caráter encontra-se nas outras línguas tibeto-birmanesas 1
e pOde ser· aproximado da ausência de termos de parentesco para os pa·
rentes mais 'jovens. que já notamos nos sistemas chineses falados.'
l!! inútil descrever o sistema em detalhes, mas um ponto inicial deve
ser mencionado. Encontra·se khu para designar irmão do pai, e ne para
a irmã da mãe. São termos derivados de raízes tibeto·birmanesas + k'u
- ni·+nei, respectivamente "irmão da mãe" e "irmã do pai", que en-
contramos em vários sistemas do Assam e da Birmânia, ou com os sen-
tidos anteriores, ou com os sentidos, equivalentes, de "sogro" e "sogra".
Benedict interpreta o deslocamento da raiz +k'u, do irmão da mãe (ao
mesmo tempo pai da mulher) para o irmão do marido, pela existência,
particular ao Tibete, da pOliandria fraterna. Nesse regime, o irmão do
pai é, ao mesmo tempo, marido da mãe e tende por conseguinte a
ocupar este lugar predominante resultante da acumulação de duas fun·
ções, que compete ao irmão da mãe em um regime de casamento entre
primos cruzados.' A explicação é possível mas _não é inteiramente satis-
fatória, pois seria preciso estarmos melhor informados a respeito das
regras tibetanas do casamento para iniciar um debate sobre este assunto.
Podemos, entretanto, fazer algumas observações. A poliandria fraterna
foi sem dúvida no passado uma instituição muito espalhada na Asia Cen·
trai, só tendo desaparecido, na maioria dos grupos, em data recente.
Briffault deu·se ao trabalho de reunir todas as indicações neste sentido.'
- Paul K. Benedict, Tibetan and Chinese Kinship Terms. Harvard Journal o/
Asiatic Studies, vol. 6, 1942, p. 314. - Cf. nota 5, p. 400.
- Benedict, p. 317-318.
- R. Briffault, The Mothers, Nova Iorque 1927, voI. 1, p. 669s5.
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