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formação de ciclos cada vez mais longos, e, teoricamente pelo menos,
ilimitados. A substituição da compra da mulher pelo direito sobre a
prima permite pois à troca generalizada desprender-se de sua estrutura
elementar e favorece a criação de ciclos cada vez mais numerosos e tam-
bém cada vez mais flexíveis e extensos. Ao mesmo tempo, a regra da cir-
culação dos bens privilegiados impõe um ritmo a ciclos de agora em
diante improvisados, fixa o rastro deles e comprova a cada instante o
estado credor ou devedor dos balanços.
Acabamos de ver que a estrutura da troca não está ligada à pres-
crição de um cônjuge preferido. Mesmo que a multiplicação dos graus
proibidos elimine os primos em primeiro, segundo ou terceiro grau do
número dos cônjuges possíveis, as formas elementares da troca, que pro-
curamos definir. continuarão ainda a funcionar. Uma sociedade suficien-
temente densa, na qual todas as famílias procurassem estender suas
alianças, se organizaria espontaneamente em um ciclo longo. Na medida
em que fosse possível, mediante uma estatística relativa a um grande
número de casamentos, descobrir, pelo menos em certos casos, relações
de parentesco afastado entre os cônjuges, estas relações seriam necessa-
riamente de predominância matrilateral. Ao contrário, uma sociedade em
crise, onde a política das alianças é dominada pela preocupação imediata
de obter ou de manter garantias, ofereceria à análise elevado coeficiente
de patrilateralidade, mesmo que esta não pudesse ser diretamente esta-
belecida, e: só o fosse em certos casos e para graus distantes. Estas
observações ~ão essenciais para quem quiser estender ao mundo europeu
Os princípios gerais de interpretação estabelecidos neste trabalho. Hocart
observou que a Europa medieval oferecia uma espécie de esboço de
sistema de gerações alternadas, com o costume de dar o nome do avô
ao neto. Foi levado pelo menos a tentar inferir daí a existência de um
antigo casamento indo-europeu entre primos cruzados bilaterais." Nada
autoriza esta hipótese. Mas sabemos que o sistema das gerações alterna-
das não está ligado àquele tipo de casamento, que pode perfeitamente
resultar também do casamento patrilateral. Para compreender o fenômeno
assinalado por Hocart basta imaginar que a sociedade medieval tenha
tido, permanente ou temporariamente, a tendência a encurtar Os ciclos de
aliança, sem dúvida por motivo da instabilidade geral. Este encurta-
mento devia inevitavelmente elevar o coeficiente dos casamentos patri-
laterais, mesmo que esta patrilateralidade se estabelecesse em um grau
tão afastado que as famílias participantes dele não Uvessem o menor
conhecimento. Esse não era certamente o caso no que diz respeito às
alianças nobres ou reais, interessadas, em todo momento, no eqUilíbrio
dos balanços. Mesmo fora da atividade consciente do grupo, uma elevada
taxa de patrilateralidade deve impor progressivamente ao pensamento co-
letivo seu ritmo específico, que consiste na periódica inversão de todos
os ciclos ... , A alternância dos nomes pessoais explica-se facilmente como
- "A forma primitiva poderia bem ser um sistema de gerações alternadas no
qual avO = neto, e este sistema parece, de maneira obscura, estar ligado ao ca-
samento dos primos cruzados". A. M. Hocart, The Indo-european Kinship System.
The Ceylon Journal 01 Science, Secção G, vol. 1, parte 4, 1928, p. 203. - Cf. caps. XXVI-XXVII.
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