tânea - em seguida como especificação da lei, porque a natureza não
diz somente que é preciso ter pais, mas também que tu serás semelhante
a eles. Ao contrário, naquilo que se refere à aliança, a natu:reza, con·
'tenta·se' em' aflrmar-ãíei,sendo indiferente ao conteúdo dela. Se a 're-
lação entre pais e filhos é rigorosamente determinada pela natureza dos
primeiros, a relação entre macho e fêmea só é determinada pelo acaso e
pela probabUidade..,lI!l. portanto na natureza - deixando de lado as mu·
tações - um princípio de indeterminação, e um só, sendo no caráter
arbitrário da aliança que se manifesta. Ora, se admitirmos, de acordo
com a evidência, a anterioridade histórica da natureza em relação à cul-
tura, somente graças às possibilidades deixadas abertas pela primeira é
que a segunda pôde, sem descontinuidade, inserir sua marca e introduzir
suas exigências próprias. A cultura tem de inclinar·se diante da fatalidade
da herança biológica. A própria eugenia pode apenas pretender fazer uma
manipulação desse dado irredutível, sempre respeitando suas condições
Iniciais. Mas a cultura, impotente diante da flliação, toma consciência de
"seus direitos, ao mesmo tempo que de si mesma, diante do fenômeno,
inteiramente diferente, da aliança, o único sobre o qual a natureza já
não disse tudo. Somente aí, mas por fim também aí, a cultura pode
e deve, sob pena de não existir, afirmar "primeiro eu" e dizer à natureza:
"não irás mais longe".
Por motivos muito mais profundos que os já expostos, opomo·nos
portanto às concepções que - tais como as de Westermarck e de Ha-
velock EIlis - levam a crédito da natureza um princípio de determi-
nação, mesmo negativo, da aliança. Sejam quais forem as incertezas a
respeito dos costumes sexuais dos grandes macacos e do caráter monó-
gamo ou polígamo da família entre os gorilas e os chimpanzés, é certo
que estes grandes antropÓides não praticam nenhuma descriminação se-
xual com relação a seus parentes próximos. Em compensação, as obser-
vações de Hamilton estabelecem que, mesmo entre os macacos, o hábito
sexual embota o desejo.' Por conseguinte, ou não existe nenhum vinculo
entre os dois fenômenos ou então a passagem do hábito à aversão, con-
siderada por Westermarck como o verdadeira origem da proibição, pro-
duz,se no homem com caracteres novos. Como explicar esta particula-
ridade se excluímos por hipótese a intervenção de toda atitude de origem
intelectual, isto é, cultural? Seria preciso ver na suposta aversão um fe-
nômeno especffico, mas cujos mecanismos fisiológicos correspondentes
procuraremos em vão. Consideramos que se a aversão constituísse um
fenômeno natural manifestar-se-ia num plano anterior, ou pelo menos
exterior, à cultura, sendo indiferente a esta. Mas nesse caso indagaríamos
inutilmente de que maneira, e de acordo com que mecanismos, se realiza
esta articulação da cultura sobre a natureza sem a qual não pode exis-
tir nenhuma continuidade entre as duas ordens. O problema esclarece-se
quando admitimos a indiferença da natureza - corroborada por todo o
Etstudo da vida animal - às modalidades das relações entre os sexos.
Porque é precisamente a aliança que fornece a dobradiça, ou mais exata-
mente o corte, onde a dobradiça pode fixar-se. A natureza impõe a alian-
,ça sem determiná-Ia, e a cultura só a recebe para definir-lhe imediata-
mente as modalidades. Assim se resolve a aparente contradição entre o
- G. S. Miller, loco cito
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