25
Certamente uma resposta ao meu pedido de que não saísse à rua — o que
alguns ministros reforçaram, diga-se de passagem —, naquele mesmo
domingo Bolsonaro pegou o carro e foi para Taguatinga, no entorno de
Brasília, e parou no comércio local para falar com as pessoas. Promoveu uma
aglomeração, cumprimentou um monte de gente e toda a imprensa divulgou
com ar crítico o passeio do presidente. Ele fez tudo na mão contrária do que o
Ministério da Saúde vinha recomendando. Fez o contrário do que havíamos
conversado na reunião do dia anterior. E isso passou a ser a rotina.
Ficou muito difícil ter confiança no presidente. Todas as vezes em que
conversávamos, ele dizia que me deixaria trabalhar, organizar o sistema,
implementar o que fosse necessário. Mas falava isso de manhã e fazia o
diametralmente oposto à tarde. Continuava indo ao encontro das pessoas,
provocando ajuntamentos, dava declarações contra o distanciamento social. E
foi depois da reunião na biblioteca do Alvorada que ele começou a ter esse
tipo de atitude de forma mais sistemática.
Bolsonaro passou também a buscar a assessoria de outras pessoas para se
contrapor aos dados e à estratégia do Ministério da Saúde. Chamou o Osmar
Terra e a médica Nise Yamagushi, defensora da cloroquina como remédio
salvador contra a covid-19, para uma conversa. O Palácio do Planalto passou
a ser frequentado por médicos bolsonaristas.