começou a perceber que existia uma epidemia, ao contrário do restante do
governo, para quem ainda não havia caído a ficha.
A partir daí, Fábio Wajngarten, chefe da Secretaria de Comunicação do
governo federal, a Secom, entrou no circuito. Eu disse a ele que precisávamos
de ações informativas, peças publicitárias bem didáticas e sem tom ufanista
para orientar as pessoas em casa, as que precisavam sair para trabalhar e as
que estavam chegando do exterior, sobretudo dos países que mais padeciam
com a epidemia. Falei da minha ideia de colocar uma chamada de texto com
um locutor lendo as medidas. Bem simples, e que poderia ser mudada
rapidamente, só trocando as informações da locução quando necessário, algo
realmente dinâmico.
O Wajngarten me olhou e disse que aquilo era um absurdo. Que ele iria
montar uma campanha a partir de doações, realizada de graça por artistas,
cantores, jogadores de vôlei, jogadores de futebol. A questão é que aquilo não
saía nunca do papel. Desconfiei daquele plano, expressei com cuidado as
minhas ressalvas, mas eles tocaram a ideia assim mesmo.
Tempos depois a Secom apresentou três peças pilotos do tipo “Pra frente
Brasil”, um negócio ufanista, passando a mensagem “vamos juntos para essa
guerra”, “vamos vencer essa batalha”, “corrente pra frente”. Isso tudo com
musiquinha, verde e amarelo na cara, bandeiras. Era uma coisa
completamente diferente da que eu tinha pensado. Era quase como se
pegassem a doença para fazer uma promoção do “espírito coletivo” do
brasileiro, como uma publicidade de Copa do Mundo.
Cheguei um pouco atrasado à reunião de apresentação dos programas
pilotos, depois que eles tinham passado o primeiro vídeo. Quando terminei de
ver o segundo, falei que aquilo não tinha nada a ver com o que o ministério
precisava veicular. A resposta de Wajngarten foi a de que eles tinham
gostado muito do primeiro vídeo que, diga-se de passagem, era ainda mais
antfer
(Antfer)
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