abertura até o final, era quase totalmente sobre o novo coronavírus. E o jornal
teve sua duração ampliada, passando de meia hora, quarenta minutos, para
uma hora e pouco.
Então, na coletiva do dia 28 de março, falei que as pessoas deveriam
conversar entre si em casa, que desligassem um pouco a TV. Eu sabia que
isso também teria o efeito de agradar os bolsonaristas do governo, claro. Eu
planejava falar que a TV era um pouco repetitiva, que o noticiário estava
muito ácido. Mas, na hora, o adjetivo que me veio foi “sórdido”. O restante
da coletiva foi perfeito, mas este trecho deu confusão.
Desliguem um pouco a televisão. Às vezes ela é tóxica demais. Há quantidade de
informações e, às vezes, os meios de comunicação são sórdidos porque eles só vendem
se a matéria for ruim. Publicam o óbito, nunca vai ter as pessoas que estão sorrindo na
rua. Senão, ninguém compra o jornal.
Essa frase foi infeliz e não era a minha intenção chamar a imprensa de
sórdida. Eu queria a cobertura do nosso lado. Aí o Jornal Nacional fez uma
nota rebatendo minha fala. A apresentadora Ana Paula Araújo leu o seguinte
texto:
O ministro da Saúde encontrou uma outra maneira de agradar o presidente. Ele criticou
o trabalho da imprensa afirmando que os meios de comunicação são sórdidos porque, na
visão dele, só vendem se a matéria for ruim. Na pandemia de um vírus letal contra o
qual não há medicamento ou vacina, é estarrecedor que ele não reconheça que o nosso
trabalho, o trabalho de todos os colegas jornalistas daqui da Globo, mas também de
todos os veículos, é um remédio poderoso. Dar informação para que o povo possa se
proteger. Há muitos trabalhos essenciais. Os dos médicos e enfermeiros em primeiro
lugar. Mas nós jornalistas estamos nas redações e nas ruas arriscando a nossa saúde para
cumprir a nossa missão e fazemos isso com orgulho.
Vi aquilo e fui conversar com o José Carlos Aleluia, meu assessor especial
no Ministério da Saúde. Aleluia, como disse anteriormente, vem da política