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O distanciamento entre a Saúde e o resto do governo ia ficando cada vez
maior. Na reunião ministerial de 31 de março, eu e Paulo Guedes entramos
em atrito por causa do reajuste do preço dos remédios. O ministro da
Economia queria liberar o aumento de preços e defendi que não fazia sentido
esse tipo de medida durante uma pandemia. A discordância é algo normal no
ambiente político, mas esse embate foi acima do tom.
Todo o problema aconteceu porque o Guedes não havia se inteirado sobre
as regras para o reajuste de preços no setor farmacêutico. Esta é uma das
poucas áreas que, desde a época do governo Fernando Henrique Cardoso,
continua com preços tabelados, definidos pelo governo. Já estávamos no
segundo ano de gestão de Bolsonaro e o ministro da Economia não sabia
disso.
A regra diz que, uma vez por ano, os ministérios da Economia, do
Planejamento e da Saúde devem se reunir para decidir os valores do aumento
dos medicamentos. Isso ocorre sempre depois de um diálogo com o setor
farmacêutico. O pleito dos laboratórios chega e vai para a mesa ministerial. A
partir daí é tomada a decisão.
Na reunião do dia 31 estávamos justamente discutindo essa questão,
porque se aproximava o prazo final para ser publicado o reajuste. Só que já
havia sido estabelecido que o reajuste seria de 3,4 por cento, e que eu tinha