Luiz Henrique Mandeta - Um Paciente Chamado Brasil

(Antfer) #1

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Concluí que o cálculo do Bolsonaro era o seguinte: o que o afetaria nas
eleições em 2022 seria a economia. O que salvaria ou enterraria a sua futura
candidatura seriam emprego, renda e os outros fatores econômicos. Se ele
conseguisse, como o Paulo Guedes sinalizava, um crescimento de 2,5 por
cento na economia em 2020, faria uma reforma administrativa no ano
seguinte para soltar as amarras dos cofres públicos e dos investimentos, e
poderia chegar ao fim do mandato com um crescimento de 3,5 ou 4 por
cento. Com isso, não teria adversário capaz de barrá-lo. Como ele não tinha
negociado quase nada de espaço no governo, ainda teria margem para tal.
Atravessaria 2022 com um novo mandato. Mas veio a pandemia.
Quando ele viu a adesão da população às pautas da saúde, criou na cabeça
a teoria de que o isolamento social era uma conspiração do Doria, do DEM,
do Rodrigo Maia, minha, do Nordeste, pois com a economia fechada e todo
mundo em casa, ele não poderia seguir seu plano. Para ele, quem tivesse que
morrer já iria morrer mesmo, não valia a pena parar tudo por causa disso.
Como citei anteriormente, ele me disse que quem morria de covid-19 era
idoso, de oitenta, noventa anos, e que, portanto, já ia morrer mesmo.
Ele procurava uma maneira de não sofrer tanto na economia e ainda
transferir o desgaste das mortes e da falta de cuidados com a epidemia para
prefeitos e governadores, sempre com o discurso de que havia feito a parte

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