Só então coloquei o nome do piloto na lista, como suspeito e descartado no
mesmo dia. Por isso ninguém percebeu que aquele suspeito que entrou de
manhã viera da operação Wuhan, ou, como foi oficialmente chamada pelos
militares, operação Regresso à Pátria Amada Brasil. Se ele testasse positivo, a
operação teria sido considerada um fracasso, instalaria uma crise gigante e
exporia uma falha absurda de procedimento. Essa informação foi mantida em
sigilo comigo, com o Wanderson, com o ministro da Defesa e com a unidade
especial que levou o piloto para dentro do hospital.
Os aposentos que receberiam os resgatados de Wuhan foram preparados
com mensagens de boas-vindas e até berços para as crianças. Era uma
maneira de demonstrar cuidado, já que não havia referência para esse tipo de
preparação, pois, como disse anteriormente, a última vez que houve
quarentena no Brasil foi em 1918, durante a gripe espanhola. Havia dúvidas
sobre o tempo e o tipo de confinamento, se as pessoas deveriam ficar o tempo
todo em seus quartos, se poderiam interagir umas com as outras, receber
visitas. No final, os militares colocaram em prática o que chamei de
quarentena à brasileira: bem-intencionada, mas sem a participação dos
técnicos do Ministério da Saúde.
Montaram uma área de convivência onde os resgatados podiam se
encontrar, coisa que ninguém nunca viu num confinamento de combate a
uma epidemia. Havia um cinema onde todos ficaram juntos para assistir a um
filme escolhido a dedo pelos militares: Epidemia. Em outra ocasião, levaram
uma dupla sertaneja goiana para divertir os confinados, algo impensável
numa situação daquelas. Se um ali testasse positivo, todos teriam de
permanecer em quarentena.
A orientação da OMS era de catorze dias de confinamento, mas determinei
que fossem dezoito. Os testes começaram no aeroporto de Wuhan, graças à
insistência da dra. Ho Yeh Li. Ela era a única que falava chinês e conseguia
antfer
(Antfer)
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