colocando o aspecto social na frente do econômico. Tanto é que, da quase
totalidade dos projetos criados para amenizar os impactos da pandemia —
como o auxílio financeiro —, a maior parte veio do Congresso. De cada dez
medidas de impacto social, nove se originaram no Congresso, não no
Executivo.
Essa dificuldade de fazer a leitura política não era exclusiva do Paulo
Guedes. O governo Bolsonaro reunia um corpo de ministros que nunca havia
exercido um mandato, com exceção do Marcelo Álvaro Antônio (ministro do
Turismo), Onyx Lorenzoni, Tereza Cristina e eu.
Comuniquei então aos ministros Jorge Oliveira e Luiz Eduardo Ramos e ao
presidente do Banco Central, Roberto Campos Netto, que estavam ao meu
lado, que era melhor eu ir embora para que, de alguma maneira, as perguntas
ficassem concentradas na economia, já que a razão da reunião era o
orçamento do governo. (Campos Netto foi quem mais estudou sobre os
impactos do novo coronavírus na economia. Ele sempre me ligava, estudava
gráficos de outros países, tinha uma clareza imensa do que estava
acontecendo.) Pedi licença a Rodrigo Maia e David Alcolumbre, saí e
aconteceu exatamente o que eu previra.
Quando Paulo Guedes acabou de falar, os líderes e deputados presentes
disseram que estava ali um ministro da Economia que não havia entendido
nada da crise sanitária que se atravessava. Guedes ficou profundamente
irritado, inclusive comigo. Passou a tratar aquilo como se fosse, de alguma
maneira, uma armadilha preparada pelo Maia e pelo Alcolumbre contra ele. E
eu sabia que ficara parecendo que eu estava no conluio, como se eu tivesse
alguma coisa a ver com aquelas votações.
No fim, a reunião terminou mal para a economia, mas destravou o olhar do
Congresso Nacional para a pandemia. Isso fez com que, já nos dias seguintes,
os parlamentares deixassem Brasília para voltar a seus estados de origem,
antfer
(Antfer)
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