injustificada ou infrinja alguma lei. Antes não era assim: a verba só era
liberada para quem votava com o governo, pois era necessária sua aprovação.
As emendas impositivas então mudaram o jogo. Os parlamentares viram uma
chance de autonomia e isso gerou avanços dentro do Parlamento no que se
refere à execução do orçamento. Foram sendo criadas emendas a essa lei,
para que o Parlamento tivesse mais poder na execução do orçamento. Em
2019, devido à desarticulação do governo, a Comissão Mista de Orçamento
(CMO) deliberou que 15 bilhões poderiam ser utilizados de maneira
discricionária, ou seja, em função da vontade política. Esse fato agora servia
de estopim para que o presidente convocasse uma manifestação popular. Era
como se a votação fosse recente, mas não era, havia ocorrido meses antes.
Nesse caso, a ira do presidente foi construída, um pretexto para levar o povo
às ruas.
Bolsonaro fez sua convocação e, na época, tinha muito cacife. Os
militantes queriam apoiar o presidente, e ele queria manifestantes na rua. Mas
o general Heleno começou a bater na mesma tecla das aglomerações,
insistindo que ele pedisse ao povo para não se manifestar, que o protesto seria
uma bobagem, que era desnecessário porque ele já tinha o povo ao seu lado, e
assim por diante. Bolsonaro concordou, mas vetou qualquer fala sobre a
proibição dos protestos.
Fui então chamado ao Palácio da Alvorada,^1 onde ele estava em
isolamento, para gravar um vídeo com ele para sua live semanal. A ideia era
reforçar para a população as instruções básicas de cuidado com a saúde, ou
pelo menos era esse o combinado.
Apareci com máscara, levando álcool em gel, mas a intérprete de libras
estava sem máscara. Falei que estava errado estarmos de máscara, mas a
intérprete ficar ao nosso lado sem. Não é porque ela não fala que não precisa
usar máscara, argumentei. A resposta do Bolsonaro foi que não daria para
antfer
(Antfer)
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