National Geographic - Portugal - Edição 235 (2020-10)

(Antfer) #1
REIMAGINANDOOSDINOSSAUROS 31

Lawrence Witmer
contempla o molde
de um crânio de
Tyrannosaurus rex.
Os contornos da caixa
craniana do T. r e x
mostram aos paleontólo-
gos que este animal
dependia fortemente do
sentido de olfacto. Um
estudo realizado em 2019
inferiu que o T. r e x
possuía 1,5 vezes mais
genes para os receptores
do olfacto do que os
seres humanos, com base
na dimensão relativa da
região cerebral responsá-
vel pelo processamento
dos odores.


num computador e somos capazes de trabalhar
com eles”, afirma Lawrence Witmer, paleontólogo
da Universidade de Ohio. “Podemos reconstituir
pedaços inexistentes... e fazer testes de impacte
virtuais e simulações para compreender melhor
como estes animais funcionavam na realidade.”
A imagiologia digital também pôs fim a uma
cedência do passado: anteriormente, era preciso
sacrificar as marcas dos tecidos moles de um fós-
sil para chegar ao osso. Agora, os investigadores
separam virtualmente o osso da rocha. “Isto leva-
-nos a pensar quanta informação ignorámos ou
destruímos”, comenta o ilustrador Mark Witton,
da Universidade de Portsmouth. Recentemente,
também em Portugal investigadores do CI2Paleo
da Sociedade de História Natural (Torres Vedras)
e da Universidade de Ultrecht recorreram a tecno-
logia de nano CTScan para preparar virtualmen-
te um fóssil de um crocodilomorfo do Jurássico
Superior. O recurso a esta tecnologia permitiu re-
construir em 3D os ossos invisíveis dentro do sedi-
mento e detectar a forma do sistema trabecular e
câmara internas nas vértebras.
Lawrence Witmer utilizou recentemente
exames de TAC para mostrar que os principais
grupos de dinossauros desenvolveram siste-
mas especiais de ar condicionado craniano para
impedir o sobreaquecimento dos cérebros. Di-
nossauros couraçados utilizavam as fossas na-
sais, que evoluíram até se transformarem em
condutas para dissipar o calor quando o animal
respirava, arrefecendo o sangue destinado ao
cérebro. Em contrapartida, grandes predado-
res como o T. rex ventilavam o excesso de calor
através de enormes seios nasais. À semelhança
dos foles dos ferreiros, os dinossauros flectiam
as mandíbulas para forçarem o ar a entrar e sair
das câmaras, levando a humidade a evaporar,
eliminando o calor.
Os exames TAC também dão uma ideia de como
os dinossauros se movimentavam e a forma como
mudavam ao longo do seu crescimento. Recorren-
do a vídeos de raios X e animações computoriza-
das de crocodilos e aves, Ryan Carney, da Universi-
dade do Sul da Florida, construiu modelos 3D que
revelaram, em 2016, que o dinossauro empluma-
do Archaeopteryx terá sido capaz de bater as asas
de forma a viabilizar um voo autopropulsionado.
Quanto mais aprofundadamente são capazes de
observar cada pedacinho de osso, mais porme-
nores preciosos são descobertos. E isso signifi-
ca que várias ferramentas foram notavelmen-
te aperfeiçoadas. (Continua na pg. 38)
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