“ Você está sendo
chamada...”
Séculos de humilhação e
violênciaestavam alidiante de Néris,
um passado mal consumado, que
insiste ainda em estar presente nas
relaçõeshumanas.
Ali,agarotaNéris,entãocom 16
anos, descendente também de
escravos, soube que faria algo a
respeito,que nãoficaria muda diante
de uma liberdade desde 1863 não
concretizada.
Anos se passaram até ter sua
chancedeseexpressar.Acabaradese
formaremjornalismoefoicontratada
pelo The New York Times como
repórter.
Suaprimeiramissãofoicobrira
rebelião que aconteceu após uma
mulhernegratersidoassassinadapor
policiais, dentro de sua própria casa,
em uma desastrada operação da
políciadeNovaYork,quelherendeuo
primeiroprêmiodesuacarreira.
“A declaração de emancipação
deLincoln não conseguiuacabar,de
repente, com a humilhação da raça
negra” – desabafava ela, cheia de
certezas, às câmeras das televisões
americanas,quetransmitiamaovivo
suas declarações – “Naturalmente,
hoje temos liberdade de opinião,
imprensa e religião. Mas algumas
outras liberdades ainda nos faltam,
como a de uma mulher negra se
manter viva e poder levar sua vida
em tranquilidade nessa cidade, sem
servítima demachismo, preconceito
eviolênciaemplenoséculoXXI.”
A jovem jornalista estava em
seulugardefala.Elaprópria,mulher
enegra,viveumuitadiscriminaçãoao
longodavida.Suafamíliaacumulava
histórias violentas, vividas pelos
homens, mas principalmente pelas
mulheres.