Revista de Vinhos - Edição 371 (2020-10)

(Antfer) #1
VINDIMA 2020

Os dados avançados pelo Instituto do Vinho e da Vinha (IVV), no
início de agosto, apontavam para uma ligeira redução da campanha
em relação a 2019/2020, em torno dos 3%, ou seja, um volume total
de 6,3 milhões de hectolitros. Afirmava tratar-se de um ano marcado
pela “instabilidade meteorológica observada ao longo do ciclo vegeta-
tivo”, com o registo de “focos de míldio” que obrigaram a tratamentos
intensivos e cuidados redobrados.
A Revista de Vinhos procurou tomar o pulso à campanha e, sobre-
tudo, à qualidade dos vinhos e mostos, num ano marcado por con-
dições ainda mais difíceis que o habitual, dado o cenário pandémico
provocado pela Covid-19. O citado documento do IVV reportava que
as regiões vitivinícolas de Terras de Cister (-35%), Trás-os-Montes
(-20%), Douro e Porto (-20%), Dão (-20%) e Açores (-15%) seriam
as principais responsáveis por esta ligeira quebra. Na região da Beira
Interior não se antecipavam variações. Nas restantes regiões pre-
viam-se aumentos de produção, destacando-se a região do Minho,
com o maior acréscimo em volume (+73 mil hectolitros) e a região do
Algarve, com o maior crescimento percentual (+15%).

Vinhos Verdes

Na região dos Vinhos Verdes a expetativa era para um aumento na
produção de 9% relativamente ao ano anterior, mesmo tendo em
conta a forte incidência de focos de míldio, com a produção total a
ascender a 890 mil hectolitros, 7% acima da média dos últimos cinco
anos.
A uma semana do término da vindima, António Sousa refere que
a vindima trará “boas produções” e, no que concerne à quantidade
obtida, estará em linha com o ano anterior. Algumas castas, como a
Loureiro, assumem um desempenho surpreendente, apresentando
“níveis de acidez de 6,5 a 7 gr. de acidez e 12% de álcool provável à
entrada da adega”. Também as uvas das castas Avesso e Arinto reve-
lam-se satisfatórias.
O enólogo regista apenas algum “défice de acidez nas uvas mais pre-
coces, colhidas em agosto e início de setembro”, apresentando-se “um
pouco sobrematuradas”. Já a uva “colhida no período de meados de

setembro até agora mostra-se muito equilibrada”. Na sub-região de
Monção e Melgaço, o crescimento será ainda superior, com as uvas
da casta Alvarinho a apresentarem excelente qualidade fitossanitária.

Douro e Porto

No Douro a quebra da produção de vinho cifrava-se nos 20%, cor-
respondendo a uma diminuição de 8% face à média do período
2015/2020, superando o volume de 1,35 milhões de hectolitros.
Recorde-se ainda que o Conselho Interprofissional (CI) do Instituto
dos Vinhos do Douro e do Porto (IVDP) estabeleceu o benefício de
102.000 pipas, de 550 litros cada, (92.000, mais 10.000 de reserva
qualitativa) de mosto para produção de Vinho do Porto, numa
redução de 6.000 pipas face a 2019.
Segundo Carlos Alves, enólogo de generosos da Sogevinus, o ano foi
“chuvoso até maio, o que possibilitou a reposição natural da água no
solo para o bom desenvolvimento da videira”. No entanto, “de maio
a setembro, o tempo foi seco e muito quente, o que provocou algum
escaldão nas vinhas e, como consequência, uma quebra de produção”.
Em finais de agosto “tivemos alguma chuva, o que veio acelerar as
maturações e a vindima”. Por isso, “2020 é uma vindima de menor
produção quando comparada com 2019”. Ainda a meio da vindima,
arriscou-se a dizer que “temos na adega grandes Vinhos do Porto,
com enorme potencial de envelhecimento”.
Relativamente à performance das castas, a Touriga Franca foi aquela
que registou maior quebra de produção, a rondar os 40%. O enólogo
mostra-se “satisfeito com os mostos, pois temos teores de açúcares
na uva elevados, que permitem fermentações mais longas. Por con-
seguinte, conseguimos uma maior extração de cor e taninos. Os pri-
meiros mostos e alguns Vinhos do Porto tintos já elaborados apresen-
tam-se opacos na cor e com aromas a fruta bastante madura. Em boca
são cheios, com um tanino bem presente e uma acidez alta para anos
quentes como este. Os Portos Brancos apresentam aromas muito
limpos e frescos”. Até ao momento, as castas que têm evidenciado um
melhor desempenho são a Touriga Nacional, o Tinto Cão e o Sousão,
nas tintas, e Viosinho, Arinto e Malvasia Fina, nas brancas.

Singularidade e qualidade


na vindima de 2020


texto Marc Barros / fotos Arquivo

Este ano ficará para sempre marcado


pela pandemia, que colocou dificuldades


inauditas ao setor, extensível aos


trabalhos na vinha e, por maioria de


razão, na vindima. Junte-se um ano difícil


do ponto de vista climático. Porém, os


dados recolhidos pela Revista de Vinhos


apontam para um ano de excelente


qualidade em várias regiões nacionais,


apesar da quebra de produção.


48 · Revista de Vinhos ⁄ 371 · outubro 2020 @revistadevinhos

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