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Folha de S. Paulo/Nacional - Opinião
quinta-feira, 22 de outubro de 2020
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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A modesta inflexão de Jair Bolsonaro rumo à
conciliação e ao pragmatismo nunca abarcou o
enfrentamento da pandemia.


O presidente aproximou-se do centrão e abandonou o
ataque golpista aos demais Poderes; diante da Covid-
19, mesmo depois de infectado, manteve o
negacionismo, a omissão e a propaganda de falsas
curas. Mais grave, patrocina agora nova ameaça à
saúde pública motivada por interesse eleitoral.


Nos últimos meses, o pais sustentou-se em um arranjo
precário, porém capaz ao menos de evitar o desgoverno
completo nas políticas sanitárias. Com autonomia
assegurada por decisão do Supremo Tribunal Federal,
governadores e prefeitos puderam levar adiante
iniciativas para tentar prevenir e controlar o contágio.


Já o Ministério da Saúde, depois da saída de dois
titulares, acabou confiado ao general Eduardo Pazuello,
escolhido pela disciplina e pela fidelidade ao chefe.


Como já ocorrera com seus antecessores, Pazuello
acaba de ser desautorizado de modo irresponsável e


vexatório por Bolsonaro - mais uma vez em busca de
fazer prevalecer sua agenda tacanha e mesquinha
sobre qualquer ensaio de condução técnica e impessoal
da crise.

Ao negar com espalhafato a intenção do governo
federal de comprar a vacina da farmacêutica chinesa
Sinovac, o mandatário não enxerga além do objetivo
eleitoreiro de neutralizar a imagem de a solução
salvadora vir de São Paulo, governado por seu provável
concorrente em 2022, o tucano João Doria.

A compra de 46 milhões de doses estava apalavrada,
como se sabe, entre o ministério e o governo paulista,
ao qual está vinculado o Instituto Butantan, responsável
pela produção do imunizante no país. Tudo isso explica
a contestação de última hora de Bolsonaro à
obrigatoriedade de imunização.

O presidente, que insistiu na cloroquina como panaceia,
mesmo sem que houvesse eficácia comprovada da
droga contra o novo coronavírus, agora recorre à
ciência que renegou p ara justificar seu veto, em mais
uma de inúmeras contradições de sua gestão.

Está em jogo a superação de uma calamidade sanitária,
econômica e social que aflige o Brasil e o mundo. Todos
os meios disponíveis para tanto precisam ser utilizados
sem hesitação, em nome do interesse da sociedade,
acima de qualquer disputa política e eleitoral.

Se Bolsonaro insistir em colocar seu interesse político
no pleito de 2022 acima da saúde pública, seguirá
fadado ao isolamento e à irrelevância. Restará a
Congresso, Judiciário, estados e municípios tomar as
providências inescapáveis para que os brasileiros não
fiquem sem vacina no ano que vem.

Assuntos e Palavras-Chave: Cenário Político-
Econômico - Colunistas
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