Clipping Banco Central (2020-10-22)

(Antfer) #1

Chile , 2020


Banco Central do Brasil

Folha de S. Paulo/Nacional - Opinião
quinta-feira, 22 de outubro de 2020
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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Autor: Maria Hermínia Tavares


No próximo domingo, dia 25, os chilenos dirão se
querem uma nova Constituição ou se preferem emendar
a atual - e, em qualquer hipótese, decidirão quem se
incumbirá da tarefa. Na Suíça, por exemplo, o plebiscito
seria uma trivialidade. Longe disso no país andino,
onde, há um ano, a política e a vida cotidiana viraram de
ponta-cabeça, sob o impacto de um insuspeitado
terremoto de protestos de rua contra o aumento das
passagens do metrô de Santiago.


Assim como em outras explosões pelo mundo afora, um
ato administrativo foi o estopim da rebelião contra tudo e
todos - a começar, como de costume, contra o
establishment político. Sua força mediu-se pelas
multidões mobilizadas na capital e nas principais
cidades ao longo de cinco meses, até serem vencidas
pela Covid-19.


Irrupções populares são sempre imprevisíveis e
indecifráveis: somam demandas e sentimentos
heterogêneos. Seus efeitos mais duradouros sobre a
democracia dependem da reação do sistema político e


de sua aptidão para ouvir o grito das ruas, reconhecer o
mal-estar que vocaliza e traduzi-lo em reformas
institucionais que o tenham na devida conta.

Desde o fim da tirania do general Pinochet, em 1990,
duas forças estruturaram e conferiram estabilidade às
disputas políticas entre os chilenos, permitindo a
alternância no poder entre uma coalizão de centro-
esquerda - a Concertação - e dois partidos de direita.
Saídos embora das entranhas do pinochetismo, estes
se distanciaram gradualmente da herança da ditadura.
Sim, governaram sob a Constituição de Pinochet, porém
não raro a emendaram para servir às novas
circunstâncias.

Já apresentando sinais de crise, o arranjo desmoronou,
com a reforma eleitoral de 2016, que abriu espaço a
outras forças políticas, em um sistema de partidos muito
mais fragmentado e plural. Este se mostrou capaz de
dar uma resposta democrática avançada ao
descontentamento: pôs em debate um novo pacto
constitucional, dando voz, não só aos partidos, mas a
organizações da sociedade. Por fim, mudou de forma
radical e inédita a representação dos cidadãos. O
plebiscito desta semana dirá também se o corpo
constituinte incluirá representantes da sociedade civil,
que, por sinal, já dispõe de espaço próprio no horário
político na TV. Em qualquer caso, sua composição
assegurará paridade de resultados, ou seja, número
igual de mulheres e homens - uma novidade nos
parlamentos do mundo.

Logo depois de se tornar primeiro-ministro do Canadá,
Justin Trudeau foi perguntado por que seu gabinete era
composto paritariamente de mulheres e homens.
"Porque é 2015", explicou. Em 2020, o Chile
democrático dá a mesma resposta.

Assuntos e Palavras-Chave: Cenário Político-
Econômico - Colunistas
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