A HORA DA CIÊNCIA - Educação tem ciência
Banco Central do Brasil
O Globo/Nacional - Sociedade
quinta-feira, 22 de outubro de 2020
Cenário Político-Econômico - Colunistas
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Autor: Roberto Lent
O Encontro da Rede Nacional de Ciência para
Educação, que começa hoje, me estimula a justificar por
que defendo a tese de que a educação deve se orientar
pela ciência.
Imagine-se na posição de um candidato a prefeito,
buscando uma agenda para a educação em seu
município. Se for um bom conhecedor da localidade,
saberá que a maioria das escolas não tem boas
condições de funcionamento, muitas estão localizadas
em áreas vulneráveis, os professores ganham pouco e
dividem-se entre várias escolas durante o dia para
estudar com poucos livros à noite.
O candidato saberá também que muitos alunos são
carentes de tudo, desde o saneamento básico e a
alimentação que garantem sua saúde, até a atenção da
família que se desdobra todo dia para garantir mínimas
condições de vida. A internet falta ou falha para o
ensino remoto durante ou após a pandemia, e livros não
há. Que fazer?
A busca por soluções mira as alternativas mais eficazes
para saltar posições com rapidez. As crianças não
podem esperar e continuam crescendo apesar de tudo,
por isso educadores e cientistas têm se associado para
encontrar os caminhos mais consistentes e duradouros.
As políticas de contorno são importantes : aquelas que
removem as carências sociais. Mas não são tudo, nem
talvez o principal, haja visto o desempenho pífio dos
alunos das escolas privadas face aos critérios
internacionais. E preciso estimular o uso da ciência para
a educação, como fazemos naturalmente para a saúde
e a engenharia. Há duas razões para isso: eficácia e
escala.
Eficácia. Como podemos ensinar habilidades
socioemocionais desde cedo a crianças na pré-escola?
Quais os métodos mais eficientes para alfabetizar no
ensino fundamental? Como identificar e como cuidar
das crianças com necessidades especiais? Como
preparar os jovens para uma profissão, mesmo que não
possam ou não queiram ingressar na universidade? E
como garantir um ensino superior de qualidade para as
profissões do futuro que já apontam no horizonte?
Escala. Educação é uma pauta urgente de toda a
sociedade brasileira, que deve ser coordenada
nacionalmente para alcançar todo o país, e pode ser
acelerada se contar com a contribuição sistemática dos
cientistas. Isso pode ser alcançado pela criação de uma
política científica para a educação. No plano nacional, o
Brasil já tem a Capes, uma fundação do MEC com
excelente desempenho desde que foi criada em 1951.
Meio caminho andado. A Capes bem poderia se
transformar em uma agência de fomento à pesquisa
direcionada à educação, o que ampliaria suas
atribuições atuais, com a destinação de mais verbas
para pesquisa em temas do ensino e da aprendizagem.
Editais de pesquisa voltados para os problemas
nacionais, regionais ou municipais da educação seriam
um sonho federativo para mobilizar os cientistas e
apoiar os prefeitos que iniciarão os seus mandatos