Aprovação de Kassio não justifica novo método de indicações ao STF
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O Globo/Nacional - Opinião
quinta-feira, 22 de outubro de 2020
Cenário Político-Econômico - Colunistas
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É grave equívoco alterar regras que criam espaço para
os ministros exercerem sua independência
A previsível "aprovação automática" pelo Senado do
nome de Kassio Marques para a vaga do ministro Celso
de Mello no Supremo Tribunal Federal (STF),
temperada pela sabatina morna a que ele foi submetido,
faz crescer o interesse da oposição em mudar as regras
para as indicações à mais alta Corte do Judiciário.
Mudar as regras seria, contudo, uma péssima ideia.
Longe das paixões ideológicas, elas trazem um mínimo
de equilíbrio à experiência brasileira na
redemocratização. Entre as várias ideias em debate
para mudá-las, destaca-se a proposta de emenda
constitucional (PEC) do senador Lasier Martins
(Podemos-RS), aprovada na CCJ do Senado, arquivada
em 2018 e desarquivada no ano seguinte, até que a
Covid-19 paralisou o Congresso. Ela propõe diluir o
poder de indicação do Planalto num conselho integrado
por presidentes dos tribunais superiores e do Tribunal
de Contas, pelo procurador-geral da República e pelo
presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).
Tal conselho definiria uma lista tríplice, encaminhada ao
presidente da República. O novo ministro teria mandato
de dez anos e ficaria inelegível por outros cinco depois
de sair do Supremo.
Uma falha evidente do método é subordinar a definição
dos nomes às corporações mais influentes no meio
jurídico. Outra - a principal - é o mandato fixo. É
justamente a permanência no cargo até a aposentadoria
que garante aos ministros a independência necessária
para resistir à pressão dos poderosos. O ministro não
deve temer pelo futuro ao sair da Corte e, ao ocupar seu
lugar no plenário, pode decidir o voto sem se preocupar
com padrinhos.
São inúmeros os exemplos de votos dados por ministros
contra os interesses políticos e pessoais de quem os
indicou, em particular na esfera penal. É o que mostram
os casos de Luiz Fux no julgamento do mensalão ou de
Dias Toffoli, mais recentemente, em favor de interesses
da família Bolsonaro.
Não tem cabimento algum estabelecer mandato para
juizes. É um posto que independe de voto popular, cujo
compromisso de zelar pelo cumprimento da lei exige
proteção das ameaças. Não há, é verdade, sistema
perfeito de escolha para os ministros. Mas o essencial
não é mudar as regras atuais - é cumpri-las à risca,
submetendo os indicados a sabatinas rigorosas, que os
exponham a questionamentos robustos e
fundamentados.
Exatamente o contrário do que se viu ontem no Senado.
Quando algum assunto relevante é abordado nas
sabatinas, quase nunca é aprofundado. O inquirido nem
precisa afetar preocupação. O que é preciso mudar é
essa certeza de que tudo já estava resolvido antes
mesmo da sabatina.
Assuntos e Palavras-Chave: Cenário Político-
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