GONZALO VECINA - Barbarie no horizonte
Banco Central do Brasil
O Estado de S. Paulo/Nacional - Metrópole
quinta-feira, 22 de outubro de 2020
Cenário Político-Econômico - Colunistas
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Na terça-feira, dia 20, estava resolvido. O Brasil se
comprometeu a comprar 46 milhões de doses da vacina
chinesa, 40 milhões de doses do programa de acesso à
vacina coordenado pela Organização Mundial da Saúde
(OMS) e 100 milhões de doses da vacina da
Oxford/AstraZeneca. Como sabemos, as duas vacinas -
a chinesa e a inglesa - necessitam de duas doses para
imunizar. Assim, supondo que a da OMS também, a
partir do início da vacinação seriam imunizados algo
como 93 milhões de brasileiros. Seriam três vacinas,
todas previamente aprovadas pela Anvisa, seguras e
eficazes portanto, e analisadas pelo comitê a ser
reconstituído do Plano Nacional de Imunização, o PNI (o
que existia foi extinto por decreto do presidente em
2019).
A função do comitê, composto por médicos com
experiência em imunização, não é avaliar o que a
Anvisa analisa, mas se deter em detalhes como grau de
imunização que cada vacina confere e como utilizar as
vacinas em todo o País de maneira inteligente. Quem
seria vacinado primeiro também é uma complexa
decisão a ser proposta por esse comitê - quais parcelas
da população, de que Estados, de acordo com os
estágios da epidemia neste Brasil tão desigual.
Usada de forma inteligente em regiões onde a doença
está se manifestando mais ativamente, a vacinação
pode ser fundamental para mudar o curso da epidemia.
E o País ainda teria de buscar mais vacinas para a
população que tivesse ficado sem acesso na primeira
fase.
Tanto a Fiocruz quanto o Butantã passarão, a partir do
recebimento do primeiro lote, a se preparar para
envasar a vacina no Brasil e em seguida começar a
receber a tecnologia para produzir por aqui. Portanto,
teremos vacinas produzidas no País para terminar o
processo de vacinação e, logo a seguir, procurar
atender à demanda por vacinas do mundo.
Essas duas instituições localizadas no Rio e em São
Paulo têm quase a mesma idade - são centenárias e
foram criadas para combater a situação sanitária do
País no início do século passado. E se tornaram
respeitadas no mundo todo.
O Plano Nacional de Imunizações recebe produtos das
duas instituições. A vacina da gripe vem do Butantã -
foram 80 milhões de doses neste ano. A da febre
amarela, que é exportada para 70 países, vem da
Fiocruz. Elas não são federais ou estaduais, são dos
brasileiros. As duas instituições são fundamentais para
construir o sucesso do SUS e do Plano de Imunizações,
que mudou a face da mortalidade infantil no Brasil.
Não é aceitável de nenhuma maneira que políticos
tratem este assunto em um momento de tanto
sofrimento para o País como uma rinha pessoal! São
mais de 150 mil mortes que não deveriam ter ocorrido e
agora temos a possibilidade de enfrentar esse desastre
com vacinas e vamos jogar tudo na lata do lixo dos
pequenos interesses de homens que não sabem servir
à pátria? Que confundem suas pequenezas frente ao
difícil momento que vivemos?
Essas mortes ainda deverão ser analisadas sob a