- EXAME. NOVEMBRO 2020
É caso para dizer que, em termos de cri-
se económica, “ainda a procissão vai no
adro”. Isto porque o reflexo da crise sani-
tária já se faz sentir no bolso dos portugue-
ses, sim – e nalguns casos de forma bem
dramática –, mas ainda não afetou profun-
damente os grandes patrimónios e, conse-
quentemente, os grandes empregadores.
A avaliação patrimonial das grandes fa-
mílias – estudo realizado pela revista EXA-
ME, há 17 anos consecutivos – não reflete
ainda nos resultados financeiros o impacto
das medidas de contenção da pandemia
Covid-19, à exceção, claro está, de algumas
empresas cotadas que, neste caso, sentem
os efeitos imediatos dos resultados apre-
sentados. As contas anuais que serviram de
base a esta análise foram a do último exer-
cício completo, o de 2019, ainda o termo
pandemia nos parecia uma palavra distan-
te. O que significa que, na próxima edição
deste estudo, já se verificará um impacto
bem mais real da crise económica que Por-
tugal, e o mundo, atravessam.
A maioria das empresas analisadas re-
gistou excelentes performances em 2019,
ano em que os negócios, nacionais e inter-
nacionais, correram de feição. Foi o caso,
por exemplo, do Grupo Visabeira que, no
ano passado, bateu recordes de faturação
ao superar a barreira dos €910 milhões, o
que representou um crescimento de 22%
face a 2018. Também o Grupo BA Glass
registou vendas recordes ao ultrapassar a
fasquia dos €923 milhões de receitas, um
incremento de 8,1% relativamente ao ano
anterior. Porém, dificilmente, estes cresci-
mentos serão mantidos durante a ativida-
de de 2020, por motivos que, certamente,
todos bem compreenderão.
Ano após ano, a lista dos mais ricos tem
mantido uma certa constância nos nomes
integrantes, com algumas variações de po-
sição. Os impérios industriais, não indexa-
dos às bolsas de valores, são os que regis-
tam maior estabilidade, pois, mesmo que
o exercício de um ou de outro ano corra
pior, há sempre novas aquisições a entrar
no universo empresarial que compensam
de alguma forma as receitas. Já os patrimó-
nios assentes em carteiras de ações tendem
a ser mais voláteis e têm maior probabili-
dade de subir e de descer várias posições
ou, até mesmo, de ficarem de fora. Um des-
ses casos é o da família Mota, dona de boa
parte da Mota-Engil que, em 2014, estava
no Top 10, com uma fortuna de cerca de
€808 milhões, e que ficou agora de fora,
com valores abaixo dos €200 milhões. José
Neves, fundador da Farfetch, o empresá-
rio do momento, também tem subido e
descido na lista, ao sabor das cotações da
empresa dispersa na bolsa de Nova Iorque.
Quanto aos grandes industriais de ou-
tros tempos, os conceituados self-made
men que construíram impérios antes e
após o 25 de Abril, começam agora a dar
lugar a gerações mais novas que, com mui-
to mais estudos e formação, vão diversifi-
cando negócios, apostando em outras áreas
de conhecimento e, em alguns casos, en-
grandecendo o legado das famílias. Opta-
mos por continuar a avaliar os patrimónios
herdados como um todo, porque nuns ca-
sos temos heranças indivisas e noutros os
herdeiros são vários e torna-se difícil iden-
tificar as participações concretas de cada
elemento. Assim fizemos com os patrimó-
nios dos recentemente falecidos Américo
Amorim, Belmiro de Azevedo, Pedro Quei-
roz Pereira, Alexandre Soares dos Santos e
de outros anteriores, como os da família de
José Manuel de Mello, na segunda posição,
e da família de Jorge de Mello, no vigésimo
quinto lugar.
Tal como já tinha acontecido em 2019,
também este ano o último nome a figurar
neste ranking ficou acima dos €300 mi-
lhões. A última posição deste ano pertence
a Humberto Pedrosa, com uma parcela de
€320 milhões, sendo que, no ano passado,
o último da lista era Ernesto Gomes Vieira,
do grupo Ascendum, com €301 milhões, e
que neste ano, apesar de subir para os €
milhões, fica de fora.
NOVOS NOMES NO TOP 5
Desde há vários anos que o lugar cimeiro da
lista dos mais ricos de Portugal se mantém
inalterado. O património de Américo Amo-
rim, agora partilhado pelas quatro mulheres
da sua vida, Maria Fernanda, Paula, Marta e
Luísa Amorim, não atingiu o valor da edi-
ção de 2013 – na altura, foi avaliado em €4,
mil milhões –, mas continua na casa dos €
mil milhões, com grande distanciamento
do segundo classificado. A cotação da Galp
Energia, que já esteve nos €18,4 por ação,
cotava a €8,27 a 7 de outubro, data escolhida
para todas as contabilizações deste estudo, o
que atribui à família uma parcela mais re-
duzida, mas ainda assim bem superior a €
mil milhões. A Corticeira Amorim, a cotar
a €10,62 contribui também com uma boa
fatia da fortuna familiar.
A segunda posição, que pertenceu nos
últimos tempos a Alexandre Soares dos
Santos – e no ano passado aos herdeiros
–, é agora ocupada pela família Guimarães
de Mello, liderada por Vasco de Mello, clã
que protagonizou o negócio do ano ao ven-
der uma parcela de cerca de 40% da Brisa,
ficando com apenas cerca de 17% do capi-
tal. O valor envolvido na transação avalia a
Brisa em mais de €3 mil milhões, e, sem se
saber ainda o destino do encaixe realizado,
contabilizámos o valor total da participa-
ção no património familiar, que ascende a
€2 110 milhões.
Os herdeiros de Soares dos Santos des-
ceram, este ano, para a terceira posição, em
virtude da ascensão da família Guimarães
de Mello, pois a sua contabilização deste
ano, de €2 mil milhões, é até superior aos
€1,8 mil milhões registados no ano transa-
to. Segue-se a discreta família Alves Ribei-
ro, dona da Mundicenter, da construtora
OS 25 MAIS RICOS DE PORTUGAL