Macro
- EXAME. NOVEMBRO 2020
A bolsa portuguesa está longe do dinamis-
mo de outros tempos. Desde 2014 que o
mercado não tem empresas com dimen-
são suficiente para fazerem jus ao nome
do índice de referência nacional, já que o
PSI20 integra apenas 18 das 47 cotadas.
Nos últimos anos, o mercado de capitais
português perdeu massa crítica e saiu do
radar de muitos investidores institucio-
nais. Já as empresas aparentam ter pouca
vontade de explorar opções de financia-
mento que não sejam empréstimos junto
da banca. A falta de fulgor do mercado de
capitais indicia que a economia nacional
não está a usar um dos motores que po-
deriam ajudá-la a acelerar.
“A economia portuguesa beneficiaria
fortemente de novos esforços para desen-
volver mercados de capitais mais diversi-
ficados e integrados, que permitiriam que
poupanças privadas financiassem eficaz-
mente investimentos na economia real e,
simultaneamente, proporcionariam no-
vas oportunidades de investimento às fa-
mílias”, realça um relatório da OCDE di-
vulgado em outubro. Esta organização foi
escolhida para fazer uma avaliação exaus-
tiva ao mercado de capitais em Portugal,
após um pedido de apoio da CMVM à Di-
reção-Geral do Apoio às Reformas Estru-
turais da Comissão Europeia.
O diagnóstico não é animador. “Todos
os anos, desde 2008, o número de em-
presas que saíram do mercado acionista
ultrapassou o número de novas inclusões,
o que resultou numa diminuição do nú-
mero total de empresas cotadas”, indica a
OCDE. “No final de 2019, existiam apenas
47 empresas cotadas na Euronext Lisboa,
o que representa apenas um terço do nú-
mero de empresas cotadas em 1997.” Por-
tugal tem o rácio mais baixo entre a capi-
talização de mercado e o PIB. De cerca de
50% em 2017, esse indicador tem estado
em torno de 30%, nos últimos anos.
O processo de emagrecimento em cur-
so não se verificou apenas no número de
empresas no mercado. Muitas das que es-
tão cotadas enfrentam também um proble-
ma de falta de dimensão, principalmente
no que diz respeito às ações disponíveis
para serem negociadas (free-float). No fi-
nal de 2018, o rácio de ações livres para ne-
gociação era de apenas 43 por cento. “Este
é, de longe, o rácio mais baixo nas bolsas
europeias e apenas sete empresas portu-
guesas têm mais de 50% das suas ações
disponíveis para negociação.” Os baixos
free-floats tiram liquidez à bolsa nacional e
travam o interesse de investidores interna-
cionais. Além disso, torna mais difícil que
existam cotadas portuguesas nos grandes
índices internacionais, que são cada vez
mais seguidos devido ao crescimento das
estratégias de gestão passiva.
A
A economia
portuguesa
beneficiaria
fortemente
de novos esforços
para desenvolver
mercados
de capitais mais
diversificados
e integrados”
Avaliação da OCDE do Mercado
de Capitais de Portugal 2020
CTT
A empresa de correios protagonizou uma das últimas grandes entradas em bolsa, em 2013,
após o Estado ter decidido a sua privatização. A OPV dos CTT atraiu mais de 25 mil investidores.
A OCDE recomenda ao Governo que pondere a entrada de empresas públicas no mercado.
ALBERTO FRIAS