- EXAME. DEZEMBRO 2020
É
necessário acompanhar e regular
dois dos fenómenos laborais mais
evidenciados pela pandemia – o te-
letrabalho e as plataformas digitais
–, sob pena de agravar as diferenças
no mercado de trabalho, enfraquecer as eco-
nomias urbanas e descaracterizar a vida em
sociedade, defenderam os oradores do painel
Para Onde Vai o Emprego.
“Temos de conseguir criar condições para
evitar que estes dualismos, que nalguns casos
vinham sendo esbatidos, se venham a exacer-
bar”, instou o secretário de Estado-adjunto do
Trabalho e da Formação Profissional. Miguel Ca-
brita salientou que o trabalho remoto opõe uma
melhor conciliação entre emprego e vida famili-
ar à diluição dos tempos de trabalho e descanso
e sublinhou que será necessário agir em bre-
ve. “Não vamos poder esperar dois, três, quatro
anos para discutir e tentar avançar numa regu-
lação equilibrada”, acrescentou o responsável.
Já Rafael Campos Pereira, vice-presidente da CIP,
alerta para o risco de o teletrabalho fazer regressar
discriminações como as que no passado separavam
empregados e trabalhadores. “Há os que podem [tra-
balhar remotamente] e aqueles para quem isso é im-
possível. Cria uma sensação de diferenciação, de dois
tipos de classes”, argumenta. Se nas empresas pode di-
ficultar a integração de talentos, o espírito de equipa,
o trabalho em grupo e o cumprimento dos tem-
pos de descanso, nas economias locais ameaça
tirar gente das ruas e asfixiar o pequeno comér-
cio local “que depende da deslocação para os
locais de trabalho”, exemplifica o responsável.
REGULAR
E FORMAR
O advento do teletrabalho e o impul-
so dado à “gig economy” pela crise
de saúde pública convocam o papel
regulador do Estado, que vê a forma-
ção ao longo da vida como essencial
EMPREGO
Texto Paulo Zacarias Gomes
Outra frente que o Governo também já
se mostrou disponível para regular é o das
relações laborais no âmbito das plataformas
digitais de entregas, reforçando os direitos e
a proteção dos trabalhadores que usam es-
tas ferramentas digitais da “gig economy”. “É
inescapável regular melhor as plataformas”,
admite Miguel Cabrita. “E é melhor, como
país, que o façamos de forma regulada, pla-
neada e discutida como fizemos com os TVDE
[plataformas eletrónicas de transporte, como
a Uber]”, insiste o secretário de Estado.
Outra tecla premida com insistência foi a
da formação, num setor como o turismo, um
dos mais inovadores e com mais peso na economia na
última década, mas também dos que mais sofreram
com a contenção da Covid-19 e que acumula qualifi-
cações relativamente baixas. “Se queremos aumentar
a importância do setor, temos de nos focar na forma-
ção”, afirma Luís Araújo, presidente do Turismo de
Portugal. Fora de questão parece estar o fim de perspe-
tivas de carreiras longas, considera Miguel Cabrita.
“Os modelos de negócio de pessoas que circulam
de um emprego para outros criam um risco de
polarização e de erosão das profissões e direi-
tos associados a trabalhos menos qualifica-
dos”, concretizou o secretário de Estado. E
Secretário
de Estado alertou
para “risco
de polarização
e erosão
das profissões
e direitos
associados
a trabalhos menos
qualificados”
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