Micro
- EXAME. DEZEMBRO 2020
D
epois de cinco anos a aju-
dar quase centena e meia
de estrangeiros a virem
viver e comprar casa em
Portugal, a Kleya quer
agora pôr pequenos investidores internacio-
nais a apostar em empresas e outros projetos
no País. Entre as ideias que poderão surgir
em 2021, está um fundo de capital de risco,
a desenvolver em parceria com a sua casa-
-mãe (o grupo segurador Ageas), outras ges-
toras de fundos ou que dão acesso a vistos
gold, bem como com autarquias e clientes
que queiram investir em Portugal.
Através deste mecanismo, já previsto na
lei, seria possível a pequenos investidores
estrangeiros subscreverem tickets a par-
tir dos 350 mil euros, o valor mínimo de
transferência de capitais que permite obter
a autorização de residência para investi-
mento (ARI) ou visto gold. E, dessa forma,
investir em áreas como a reabilitação ur-
bana, a criação de residências universitá-
rias ou apartamentos para arrendamento a
baixo custo nas grandes cidades ou, ainda,
entrar no capital de pequenos negócios lo-
calizados, em particular, em zonas de baixa
densidade populacional.
“Tem que ver com não existir a estrutu-
ração de uma oferta segura para que pes-
soas possam investir noutro tipo de produ-
tos que não o imobiliário”, justifica Vasco
Rosa da Silva à EXAME. “Desenvolviam-se
condições para que fosse usado o leque [de
condições de acesso aos vistos gold] que
existe”, salienta o CEO da Kleya. Algo que,
acredita, teria impacto no total de investi-
mento captado através das transferências
de capital. Em 2020, este valor represen-
tou apenas um sexto do total investido em
imobiliário para obtenção da ARI, mas o
responsável acredita que há condições para
mais do que duplicar no próximo ano.
Entre os investimentos que podem
ser potenciados, segundo o responsável
da consultora, está a reconversão urba-
nística, em particular a dos espaços de
retalho e de escritórios no pós-Covid-19,
mas também a aplicação de Inteligência
Artificial a áreas como a produção e o con-
trolo de qualidade, agropecuária, eficiên-
cia energética e saúde. Nesta área, há um
parceiro estrangeiro interessado em de-
senvolver uma incubadora que conta com
uma shortlist de seis empresas nacionais.
Numa altura em que o Governo se pre-
para para vedar o investimento em imobi-
liário em Lisboa e no Porto como forma de
obtenção de vistos gold, Vasco Rosa da Silva
avisa que manter a atratividade do destino
para os investidores depende de “estabili-
dade” e não de criar dúvidas. “Houve em
Lisboa e no Porto uma valorização de ativos
CONSULTORIA
Abrir
as portas
ao capital
A consultora integrada,
comprada em agosto pela
Ageas, quer apostar em
instrumentos como fundos de
capital de risco para dinamizar
o investimento associado
aos vistos gold no Interior do
País ou na reabilitação.
O mercado norte-americano
está no radar, sobretudo
a diáspora portuguesa, mas
é preciso garantir condições
de atratividade do investimento
em Portugal para bater
a concorrência, avisa o CEO
da Kleya
Texto Paulo Zacarias Gomes
Fotos Diana Tinoco