Micro
- EXAME. DEZEMBRO 2020
A
pequena história costu-
ma ser lembrada como
símbolo de persistência
e tenacidade. “Em 98/99,
por aí, eu e o meu irmão
fizemos a primeira visita a Espanha com
potencial de venda. Levávamos as coisas
orientadas daqui e praticamente fecha-
das. Tínhamos uma reunião em Barcelo-
na. Como sou mais ou menos fluente em
espanhol, o encontro decorreu sempre em
espanhol. No final, o cliente apresenta-nos
o contrato. Quando verificámos, dizia lá
que éramos italianos. Chamámos a atenção
para o erro e reafirmámos que éramos por-
tugueses. A partir daí, não houve mais ne-
gócio! Porquê? Deixámos de ser credíveis.”
A maior parte dos pequenos industriais
que quis dar o salto da internacionalização,
no final dos anos 90, terá certamente uma
história idêntica para contar. Fernando
Correia, 47 anos, administrador da Ancor,
gosta de a repetir sempre que pretende de-
monstrar como foi difícil entrar no merca-
do espanhol. “A primeira abertura de conta
que fizemos em Espanha num cliente a sé-
rio foi em 2001. Mas, a partir daí, foi sem-
pre a crescer. Nunca mais parámos”, diz à
EXAME, satisfeito por ter vencido esta eta-
pa, que lhe abriu portas noutras fronteiras.
Hoje, os grandes armazenistas de pape-
laria espanhóis absorvem 35% da sua pro-
dução, assente em todo o tipo de pastas de
arquivo e cadernos. Somando aos 45% que
representa o mercado nacional (em que
conta com grandes distribuidores, como
a Staples ou o Continente), a Ancor vê-se
legitimada a dizer que é líder na Penínsu-
la Ibérica no que diz respeito à produção
dos dois tipos de artigo em simultâneo.
Seja como for, foi um grande passo para
a consolidação de uma empresa familiar,
que este ano comemora 50 anos de exis-
tência nas mãos da segunda geração.
“Foi muito difícil iniciar a internacio-
nalização. O mercado espanhol é tremen-
damente fechado. Os espanhóis pensam
dos portugueses o que os franceses pen-
PAPELARIA
Um caderno
é sempre
um caderno
O negócio começou com pastas
de arquivo numa loja artesanal, pela mão
dos pais. Os filhos trouxeram a gestão
e a internacionalização. No ano em que
comemora 50 anos, a Ancor diz ter
negócio para mais 20.
Texto Cesaltina Pinto Fotos Lucília Monteiro