Revista Literária Prosa & Versos

(Anita Santana) #1

Tauã Lima Verdan Rangel


RESISTÊNCIA


ou uma pequena reflexão sobre insistência e sobrevivência do povo brasileiro


A palavra RESISTÊNCIA, por natureza, possui uma diversidade de sentidos.
Dentre variáveis significados, talvez o mais propício para momentos de ruptura e
cisão política, social e, até mesmo, cultural esteja vinculado à ideia de capacidade
de suportar ou tolerar algo. Aliás, a capacidade de suportar é bem própria do povo
brasileiro que, apesar dos muitos desafios e obstáculos, permanece em sua cami-
nhada, em uma constante sobrevivência.


Josué de Castro, conhecido pela alcunha de “O Sociólogo da Fome”, nos
idos da década de 1940, a partir de um olhar científico, volta-se para uma análise
sobre o cenário alimentar brasileiro. Nas aclamadas obras “Geografia da Fome” e
Geopolítica da Fome”, o autor faz um diagnóstico preciso sobre a realidade da fome
brasileira e aponta para escolhas de cunho essencialmente político. Isto é, no Bra-
sil, a fome possui direcionamento certo: os mais pobres. Há um intrínseco aspecto
insistente de sobrevivência, de RESISTÊNCIA.


Cândido Torquato Portinari, pintor e poeta brasileiro que ganhou fama em
âmbito internacional, retratou a realidade sofrida do povo brasileiro em seus qua-
dros. Na série de pinturas, por exemplo, denominada “Retirantes”, Portinari retrata
figuras esquálidas e deformadas pela privação da fome e, na busca para escapar
de tal ferrenho algoz, formavam cordões que marchavam em direção ao sudeste e
à promessa de melhores condições de vida. Novamente, tal como Castro, Portinari
retrata a capacidade insistente de sobrevivência, de RESISTÊNCIA.


No campo político, a RESISTÊNCIA encontra sua principal materialização
no período de ditadura civil-militar, iniciada com o golpe de 1964 e com um dis-
curso demasiadamente ufanista e conservados. Os “anos de chumbo” fizeram aflo-
rar o melhor da insistente sobrevivência intelectual, em especial as composições
musicais, literárias, poéticas e teatrais. Apesar de um período de censura ampla
e irrestrita, a efervescência cultural, que se encontra latente e em uma aparente
submissão, abriu uma comporta desmedida de produções que, a todo custo, foram
capazes de ressoar a insistente sobrevivência.


Inúmeros nomes podem ser mencionados para exemplificar a RESISTÊNCIA
intelectual brasileira de tal período, tal como: Chico Buarque, Gilberto Gil, Caetano
Veloso, Geraldo Vandré, Ivan Lins. Mais do que isso, é pensar que as mensagens
estabelecidas nas letras das composições preconizavam a essência brasileira de


Para Refletir

Free download pdf