Revista Literária Prosa & Versos

(Anita Santana) #1
Revista Literária Prosa & Versos

amor diminua, apenas que ganhamos outros
espaços em outras famílias.


O que não dá pra controlar, pelo me-
nos no meu caso, é o sentimento de solidão
quando esses afastamentos acontecem. Já
passei final de ano sem meus pais, outros
sem meus irmãos, já passei sem o filho mais
velho, sem a filha do meio, já passei até sem
o meu caçula. E em cada uma dessas situa-
ções, apesar da falta que fazem, todos os fal-
tosos estavam também na presença de ou-
tros entes queridos.


Paro mais um pouco e percebo que esse
sentimento é digno de mães, no fundo to-
das queremos sempre ter os filhos por perto,
mesmo sabendo que eles se embrenham a
entrar na vida de outras pessoas também, e
consequentemente, de outras famílias.


E é justamente aí que começam os afas-
tamentos, que como eu falei, não acontecem
por falta de amor, mas pelo ciclo da vida,
onde todos buscamos companhia para além
da conta sanguínea. É como se as famílias
fossem aumentando, mas na verdade elas
vão se dividindo para, no fim se multiplica-
rem. E o que era para ser também uma mul-
tiplicação de alegria, por vezes se torna mes-


Carla Brandão Lopes é graduada em Letras pela UNEB, pós-gradua-
da em Linguagem, Educação e Sociedade pela ISEGO, aluna especial
do Mestrado PPGEAFIN pela UNEB. Atua na Educação desde seus 18
anos, e faz disso não somente seu emprego mas seu estilo de vida.
Atualmente trabalha como Coordenadora Pedagógica do Ensino Fun-
damental II e como Professora de Ensino Médio na cidade de Seabra,
que é sua cidade natal. Tem escrito crônicas que mesclam as alegrias
e tristezas da vida. Mãe de três filhos. Dedicada, alegre e destinada a
convencer as pessoas que a educação é o melhor caminho para a evo-
lução humana.

mo uma divisão de presença e afetos.

Começo agora a tentar planejar onde
passarei o Natal e Réveillon, e já me pego nas
incertezas da vida. Se fico em casa não te-
rei a presença de alguns, se vou ao encontro
de alguns ficarei sem os filhos mais velhos,
que já trabalham, e fatalmente me pego na
certeza de que, mais uma vez desde que saí
de casa aos 18 anos, não terei todos juntos.
Acredito que nunca mais será possível um
final de ano com todos os entes. E o que era
para ser uma constatação triste se torna a
certeza de que minha família é agraciada
com belas convivências e frutos abençoa-
dos. Meus pais não possuem mais seus pais,
hoje eles encabeçam a nossa família. Meus
irmãos e eu não somos mais apenas seus fi-
lhos, somos hoje mães e pai, meus sobrinhos
e filho mais novo, ainda crianças, nos darão
o ar da graça por algum tempo ainda, mas
não para sempre, e eu, já sinto alguns ra-
mos de minha árvore genealógica crescendo
o suficiente para, daqui há algum tempo (to-
mara que muito ainda) também criem seus
próprios galhos. A única coisa que desejo e
peço em orações é que nenhum galho des-
sa árvore, que se perpetuou através de meus
pais, se desprenda nessas divisões da vida.
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