marighella

(Ornilo Alves da Costa Jr) #1
EDSON TEIXEIRA DA SILVA JUNIOR 107

europeu ou estadunidense. Os Estados Unidos atuaram nesse período
de acirramento das contradições políticas através dos princípios da
“Aliança para o Progresso”. Os Estados oponentes ao governo de Gou-
lart receberam empréstimos e suprimentos. Numa medida ostensiva,
foi criado e financiado pelos Estados Unidos o Instituto de Pesquisa
e Estudos Sociais (Ipes) e o Instituto Brasileiro de Ação Democrática
(Ibad). O primeiro vinculava-se aos militares, liderados por generais
da Escola Superior de Guerra. O segundo teve uma atuação mais
declarada “subvencionando candidatos considerados fiéis no combate
às reformas de base”.^154 Ambos eram institutos que teriam a missão
de difundir na sociedade brasileira o temor das reformas, preparando
o terreno para o golpe de abril de 1964.
Dois fatos selaram o destino do governo Goulart e ampliaram a
ideia golpista. Um ocorrido em meados de 1963, em Brasília, com o
motim de suboficiais da Aeronáutica e da Marinha exigindo o direito
ao voto e melhores condições da tropa. Outro, em 26 de março de
1964, foi a Revolta de Marinheiros no Rio de Janeiro, liderada pelo
cabo Anselmo, para alguns espião a serviço da CIA, mais tarde cola-
borador da polícia paulista na perseguição aos partidários da luta ar-
mada através da infiltração e delação.^155 Os marinheiros queriam certa
autonomia para se organizar e reivindicar seus direitos. Os militares
viam nesses movimentos um abalo profundo naquilo que eles julgam
ser quase tudo: a hierarquia. E, progressivamente, articulam o golpe.
Em 13 de março de 1964, João Goulart participa de um comício
na Central do Brasil, local de assídua presença de trabalhadores. Nesse
comício exaltou a extensão do voto aos analfabetos, soldados, cabos
e marinheiros; a anistia política a civis e militares indiciados por ati-
vidades sindicais; defende a soberania nacional e a reforma agrária.
Os efeitos desse comício reforçam a tese dos golpistas. Para se ter


(^154) PENNA, Lincoln de Abreu. Op. cit., p. 271.
(^155) Sobre o cabo Anselmo, não se sabe o momento exato em que passou a colaborar com
os aparelhos repressivos da ditadura militar.

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