marighella

(Ornilo Alves da Costa Jr) #1
EDSON TEIXEIRA DA SILVA JUNIOR 109

faz uma avaliação do período que antecede o regime autoritário de
1964 destacando a posição de Prestes, que chegara a afirmar que se os
golpistas colocassem a cabeça para fora, teriam as mesmas cortadas.
Para Malina, não era apenas a cabeça de algumas pessoas que seriam
cortadas, mas sim o pensamento e a ação das forças militares.^157
Após um mês e nove dias do golpe instalado em 1964, Carlos
Marighella foi preso e baleado num cinema carioca situado no bairro
da Tijuca. O episódio ocorreu no dia 9 de maio de 1964. Porém,
antes disso, na renúncia de Jânio Quadros, em 1961, o apartamen-
to de Clara e Marighella, na Rua Correia Dutra era invadido pela
polícia. Marighella não estava presente. Clara resistiu aos invasores
denunciando. O desapontamento por não encontrar Marighella era
evidente, quando a polícia se retirou. Comentando esse fato, poste-
riormente, Marighella destacou a simplicidade do apartamento onde
residia, que deveria ter surpreendido os policiais. Afinal tratava-se de
um destacado líder comunista, ex-deputado, morando num quarto
e sala alugado. Marighella não perdeu a oportunidade para ironizar
e manter aceso o seu humor: “alguma tramoia existe nessa coisa de
comunista morar nesses apartamentos pequenos – deve pensar lá o
Dops com os seus botões”.^158 Com o golpe deflagrado em 1964, Ma-
righella “tentou organizar a resistência na Cinelândia. Ele com alguns
militantes de esquerda, estudantes e pessoas que se encontravam na
Cinelândia. Achava que era inconcebível aceitar o golpe sem fazer
nada”.^159 Mas a resistência simbólica viria mesmo no fato ocorrido no
Cine Esky-Tijuca, no mês de maio. Marighella, com o golpe, não iria
ficar esperando a repressão invadir seu apartamento. A polícia seguira
a zeladora do prédio em que ele morava com Clara. A zeladora tinha
um encontro com Marighella na Tijuca, onde entregaria a ele peças
de roupa. A narrativa a partir daí é do próprio Marighella:


(^157) Depoimento de Salomão Malina colhido pelo autor em 16.12.98.
(^158) MARIGHELLA, Carlos. Por que resisti à prisão. Op. cit., p. 16.
(^159) Entrevista de Clara Charf a Teoria e Debate, n.8, out./nov./dez. 1989.

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