EDSON TEIXEIRA DA SILVA JUNIOR 131
Joaquim Câmara Ferreira, velho companheiro de Marighella desde os
tempos do PC, também estava nessa reunião, que aproximadamente
reunia um número de dez militantes da ALN. Não havia, portanto,
uma centralização dentro da ALN por parte de Marighella, porém,
é inegável que suas posições tinham um peso político muito forte.
Se o cerco à ALN se acentua após o sequestro é uma questão que no
todo não deixa de ter suas implicações. Entretanto, já vimos que,
desde a implantação do AI-5, a própria CIA analisava a posição do
regime em relação à repressão como um dos pontos prioritários. Não
foi o sequestro que motivou, isoladamente, o processo de quedas que
sofreriam ALN e outras organizações da luta armada. Caso contrário,
pode-se cair num raciocínio maniqueísta de justificar e legitimar a
ação repressiva que a ditadura vinha conduzindo desde 1964.
Já Carlos Fayal, no Rio de Janeiro, encontrou-se com Marighella
mais vezes. Fayal recorda que, ao conversarem dentro de um carro
pelas ruas do Rio, ouviu de Marighella o alerta de que era melhor
os mais visados saírem do país. Sempre alertava para a questão da
segurança. Em vez de garantir a própria retaguarda, o atormentava a
segurança dos demais militantes da ALN.
Além disso, havia a necessidade de se preservar para uma guerra
de longo prazo.^209 Uma frase sintomática de Marighella era a seguin-
te: “isso aqui não é um desfile na passarela!”.^210 Essa característica
aproximava Marighella dos demais militantes, retirando a auréola de
mito, sem contudo diminuir o carisma que exercia. Num “aparelho”
arriscado, situado no bairro do Flamengo, no Rio de Janeiro, onde
se a polícia chegasse as chances de escapar seriam pequenas, lá esta-
ria Marighella: “ele fazia questão, até contra nossa vontade, de dar
assistência, de levar esse calor humano, uma coisa super importante,
além de ele estar ali correndo riscos na prática”.^211 Mantém-se a ca-
(^209) Cf. depoimento de Carlos Fayal.
(^210) Idem.
(^211) Idem.