marighella

(Ornilo Alves da Costa Jr) #1
142 CARLOS, A FACE OCULTA DE MARIGHELLA

Em O Batismo de Sangue, frei Betto narra o envolvimento do
líder guerrilheiro com os dominicanos: “em meados de 1967, Frei
Osvaldo acertou recebermos, no parlatório do convento dos Perdizes,
um professor interessado em conhecer melhor a renovação da Igreja
católica”.^229 O professor de codinome Menezes era Carlos Marighella,
e seu interesse estava muito mais além de discutir sobre as reformas
da Igreja, como ficaria mais claro posteriormente. Queria ele criar
“uma passagem de refugiados políticos que se destinavam a entrar no
Uruguai, para, em seguida, viajar à Europa”,^230 tendo o apoio de frei
Betto, que estava estabelecido em Porto Alegre, na época.
Mais adiante, Frei Betto analisa as circunstâncias em relação à
morte de Carlos Marighella, procurando se contrapor a versão de que
frei Ivo e frei Fernando foram os principais responsáveis por “abrir” o
contato que tinham com Marighella, o que facilitou para a repressão
fechar o cerco. Inclusive, menciona uma possível infiltração da CIA
na Ação Libertadora Nacional.
Gorender vai se opor à versão apresentada por frei Betto e, mesmo
reverenciando respeito aos dominicanos envolvidos no episódio, vai
afirmar: “o meu silêncio de historiador significaria conivência com a
versão apresentada por frei Betto”.^231 Para ser mais explícito adiante:
“Frei Betto preferiu a meia verdade o que é igual a meia falsidade”.^232
Para o autor não se trata de execrar os freis Fernando e Ivo, entretanto,
não concorda com a versão de frei Betto por suscitar outras possibi-
lidades, além do envolvimento direto dos dominicanos.
Em Carlos Marighella – o inimigo público número um da ditadura
militar, a sua morte é um dos destaques, o autor reacende o debate
sobre os envolvidos no episódio. Com base no depoimento de Alípio


(^229) BETTO, Frei. O Batismo de Sangue: os dominicanos e a morte de Carlos Marighella.
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,1983.
(^230) BETTO, Frei. Op. cit., p. 57.
(^231) GORENDER, Jacob. Op. cit., p. 197
(^232) Idem, p. 198.

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